Ensino Superior: Universidade de Évora atribui Honoris Causa ao “grande impulsionador” de Bolonha
Évora, 27 Out (Lusa) – O responsável pelo lançamento da reforma de Bolonha e antigo ministro francês da Educação, Ciência e Tecnologia, Claude Allègre, recebe domingo o doutoramento “Honoris Causa” pela Universidade de Évora.
“É um doutoramento essencialmente político porque o processo de Bolonha foi uma acção claramente política, que visou a melhoria das condições de estudo e formação das novas gerações”, destacou hoje à agência Lusa o reitor da Universidade de Évora (UE), Jorge Araújo.
Coincidindo com o ano em que se comemora uma década da assinatura da Declaração de Bolonha, a cerimónia de atribuição deste doutoramento está marcada para domingo, Dia da Universidade de Évora.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, vai proferir o discurso laudatório que homenageia Claude Allègre, “grande impulsionador” do processo de Bolonha, segundo a UE.
Jorge Araújo disse à Lusa que o novo modelo de aprendizagem introduzido pela reforma de Bolonha “não pode ser encarado como uma forma menos dispendiosa da República qualificar os seus filhos”.
“Pelo contrário, a aposta na qualificação da população obriga a um esforço acrescido por parte dos Estados, sobretudo daqueles que se empenhem em evoluir do estádio da mão-de-obra barata para o estádio da mão-de-obra qualificada, criativa e empreendedora”, sustentou.
Físico “notável” e autor de artigos e livros ligados à evolução da Terra, Claude Allègre, nascido em Paris, em 1937, trabalhou em várias universidades e instituições dos Estados Unidos da América (EUA) e da Inglaterra, ocupando também lugares de direcção em vários centros de investigação.
Membro da Academia das Ciências de França, já foi agraciado com o Prémio Crafoord pela Academia Real das Ciências da Suécia, em 1986, com a Medalha Wollaston pela Sociedade Geológica de Londres, no ano seguinte, e com a Medalha de Ouro do Centro Nacional para a Pesquisa Científica do Brasil, em 1994.
Enquanto ministro da Educação, Ciência e Tecnologia do Governo francês, entre 1997 e 2000, redigiu a Declaração da Sorbonne, em 1998, subscrita por quatro países.
Claude Allègre foi também o principal dinamizador da cimeira ministerial de Bolonha, de onde saiu a Declaração de Bolonha, em 1999.
O processo de Bolonha tem como objectivo a uniformização do Ensino Superior no espaço europeu, promovendo a mobilidade e empregabilidade dos estudantes.
“Desde então, a reforma de Bolonha extravasou a Europa, sendo hoje adoptada por muitos outros países, como a Rússia, por exemplo”, refere o reitor da UE, no documento de proposta da outorga deste doutoramento.
Jorge Araújo afirma que, “embora se constate que a reforma de Bolonha progride lentamente” e que “está longe de ter atingido os seus objectivos”, o processo “consubstancia mudanças profundas em toda a União Europeia e nos países que com esta se relacionam mais intimamente nos planos político, comercial e científico”.
Além da “mudança de paradigma pedagógico”, que “privilegia o esforço de aprendizagem pelo aluno em alternativa ao modelo tradicional, essencialmente expositivo”, a reforma de Bolonha tem “consequências importantes”, argumenta.
A “comparabilidade dos níveis académicos e dos objectivos da formação superior com vista à globalização do mercado do trabalho” e o “reforço da investigação científica e da assunção do seu papel estruturante no funcionamento das universidades” são dois dos impactos a que o reitor alude.
No mesmo documento, Jorge Araújo destaca ainda o “estabelecimento de redes de cooperação e de mobilidade académica entre as instituições de ensino superior e de investigação científica e as empresas” como outro dos factores positivos introduzidos por Bolonha.
RRL.
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