Évora: Investigador da universidade premiado por projecto inovador com resíduos de pneus

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univers_evoraÉvora – A partir de resíduos de pneus usados, sem valor comercial, um investigador da Universidade de Évora (UÉ) desenvolveu um projecto inovador de produção de carvões activados, material com inúmeras aplicações a nível industrial, medicinal ou mesmo caseiro.

“Existem várias aplicações para a reutilização de resíduos de pneus, mas a sua produção a nível mundial é muito superior à reciclagem”, explicou à agência Lusa Carlos Laginhas, do Centro de Química da UÉ, universidade em que se licenciou nessa área.

A novidade do seu trabalho consiste numa valorização inédita dos pneus em fim de vida, ao conseguir produzir carvões activados, mediante transformações químicas e físicas, a partir dos restos de borracha.

“Este resíduo, sem valor comercial, ganha uma nova valorização com a sua transformação num produto de valor acrescentado, com imensas aplicações práticas”, realçou.

O projecto, supervisionado pelo professor João Valente Nabais, do mesmo centro de investigação da UÉ, conquistou este mês o Prémio Inovação Valorpneu 2009, entidade gestora do Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados.

Um galardão que deixou satisfeito Carlos Laginhas, à semelhança de João Valente Nabais, que referiu à Lusa que o projecto se insere no trabalho desenvolvido, há cerca de 20 anos, no Centro de Química de Évora.

A equipa de que ambos fazem parte, contou, “pega” em recursos naturais (subprodutos agrícolas), produtos sintéticos (polímeros) e resíduos industriais “sem valor” para “produzir materiais de carbono”, nomeadamente “carvões activados, fibras de carbono activadas ou negros de fumo”.

O carvão activado, que pode assumir várias formas (monólito, granulado, pó, fibras ou tecido), já era obtido por este centro de investigação a partir de matérias-primas como a casca do grão de café ou a cortiça, a que se juntam agora os pneus usados.

“É um material adsorvente (que permite a acumulação de um componente gasoso ou líquido na sua superfície) por excelência”, como se fosse uma esponja: “Se a colocarmos dentro de um alguidar com água, vai absorver a água toda”.

Os carvões activados “também servem para adsorver um conjunto variado de coisas”, comparou o docente, aludindo à sua presença nas palmilhas anti-odores dos sapatos, nos filtros de água, no tratamento de efluentes ou em células de combustível.

“Pode também comprar comprimidos de carvão activado para absorver gases intestinais e, nos hospitais, é usado para as intoxicações”, exemplificou ainda.

No caso do carvão activado dos resíduos de pneus, que não existe no mercado, revelou Carlos Laginhas, tem “grandes potencialidades” nas aplicações em filtros e no “aprisionamento de macro-moléculas”, por exemplo, a nível do sangue, para isolar uma determinada proteína para realizar estudos biológicos.

O projecto já “despertou” o interesse de empresas ligadas à reciclagem de pneus, podendo seguir-se alguma parceria para um estudo de viabilidade económica sobre a produção deste tipo de material.

A própria Valorpneu, disse à Lusa a directora-geral, Climénia Silva, “pode vir a apoiar o desenvolvimento da ideia”, até porque o prémio de Carlos Laginhas, além de 7.500 euros, inclui um estágio profissional na empresa.

RRL.

Lusa/Fim

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