2010/Cultura: Novas formas de gestão e financiamento vão ser os grandes desafios dos museus nacionais
São os guardiães do património do país. Os museus e palácios nacionais conservam e exibem as colecções públicas de arte antiga e contemporânea, uma actividade que se tornou mais complexa nos últimos anos e enfrentará novos desafios em 2010.
Além dos reduzidos recursos financeiros e humanos que há anos consecutivos afectam os museus nacionais, limitando as programações, o sector vai confrontar-se com a exigência de novas formas de gestão para lidar com uma identidade em mudança, segundo os especialistas.
De acordo com a Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional dos Museus (ICOM-PT), inquéritos realizados em 1999 e 2003 mostram que quase triplicou o número de espaços museológicos no país que já obedecem a critérios mais exigentes.
João Brigola, novo director do Instituto dos Museus e da Conservação IMC – que tutela 28 museus e cinco palácios nacionais – ainda não fez declarações públicas sobre a situação do sector, mas um texto que assinou no ano passado na revista “Museologias.pt” revelava já algumas preocupações.
O museu, “tal como a cultura ocidental o herdou do século XVIII, atravessa uma profunda crise de identidade”, escreveu o então catedrático Universidade de Évora num texto sobre “A crise institucional e simbólica do museu nas sociedades contemporâneas”.
“A explosão museal das últimas décadas tem colocado em evidência a efemeridade e a fragilidade de grande parte destas novas iniciativas museológicas, e acentuado o fosso que as separa dos museus já consolidados”, apontava o especialista.
João Brigola considerava ainda que “é no quadro ético que a crise do museu nas sociedades contemporâneas, permeável à concorrência das indústrias do entretenimento e às leis do mercado e do marketing, ameaça corroer a sua base normativa e conceptual enquanto instituição central da cultura”.
Clara Camacho, na altura sub-directora do IMC, também deixava pistas para reflexão sobre o futuro do sector, escrevendo, na mesma publicação, sobre “responsabilidades acrescidas” dos museus nos dias de hoje face ao património cultural.
A conservadora concluía que os museus estão a enfrentar exigências de mais e melhor conhecimento, conservação adequada e segurança reforçada, além de respostas ao público em termos de exposições renovadas, conforto e lojas atractivas.
Referia ainda, na mesma publicação, que os directores dos museus enfrentam novos desafios com estas mudanças: “provenientes maioritariamente das Humanidades e Artes, é com alguma relutância que encaram as áreas da gestão, que progressivamente se tornaram mais exigentes, mais especializadas e mais controladas”.
Sintomática desta evolução foi a recente demissão do director do Museu de Évora, Joaquim Caetano, após quase uma década à frente da direcção.
Alegou que para o museu enfrentar “novos desafios” deveria ser liderado por alguém com outro perfil, “outra capacidade de gestão e de angariação de apoios, por exemplo através de mecenato”.
No ano passado, na mesma revista “Museologias.pt”, Manuel Bairrão Oleiro, então director do IMC, defendia a possibilidade dos museus nacionais serem financeiramente apoiados pelo Estado, de forma continuada, mas geridos de acordo com regras de gestão privada, convicto de que esta solução “seria aquela que melhores garantias de sucesso poderia trazer aos museus públicos”.
Em declarações à Agência Lusa, João Neto, presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), rejeita esta posição, e considera que “os privados não são melhores do que os públicos”.
Mas defende, como prioridade para 2010, que “os recursos humanos dos museus devem receber formação especializada em gestão e direcção” destes organismos.
Defende também a criação do Conselho Nacional de Cultura, que integra uma sessão dedicada aos museus “uma promessa nunca realizada”.
Esta também é uma das medidas fundamentais e mais urgentes defendidas recentemente num documento enviado à tutela pela direcção do ICOM-PT, que vaticina “tempos muito difíceis no mundo dos museus”.
O orçamento para os museus e palácios nacionais de 2010 é ainda uma incógnita, mas a tutela, liderada pela ministra Gabriela Canavilhas, já reiterou o avanço da construção do novo Museu dos Coches em Belém, e anunciou também a reabilitação do Museu de Arte Popular, envolto em polémica este ano.
AG.
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