“Com excepção de Évora, há poucas cidades comparáveis a Guimarães”
O filósofo Eduardo Lourenço defendeu, em Guimarães, numa conferência sobre a “Capital Europeia da Cultura 2012”, que “com excepção de Évora há poucas cidades em Portugal que se possam comparar com Guimarães”.
“É uma cidade com uma grande coerência arquitectónica, que reflecte todo um passado e toda uma memória. Por tudo isto, esta ideia de Guimarães ser uma futura Capital Europeia da Cultura não é tão insólita nem paradoxal como pode parecer”, afirmou.
O pensador e ensaísta frisou que “ser-se europeu ou ter uma vocação europeia não é incompatível com o enraizamento com um local particular e com uma história antiga como a portuguesa”.
Eduardo Lourenço falava na Sociedade Martins Sarmento sobre “A Importância do debate sobre a construção europeia no contexto da Capital Europeia da Cultura”, iniciativa da Fundação Cidade de Guimarães.
No acto participaram, também, a presidente do organismo, Cristina Azevedo, e o gestor da “Guimarães editores”, Paulo Teixeira Pinto, que ontem assinou um protocolo com a Fundação para a publicação de livros durante a Capital Europeia da Cultura.
Eduardo Lourenço lembrou que “Portugal e a Península Ibérica pertencem à Europa mais antiga, ligada à emergência do império romano”.
“Somos dos europeus mais antigos e não há nada de insólito em que uma pequena cidade de Portugal tenha proposto, tal como poderia acontecer com outra cidade europeia, ser Capital Europeia da Cultura”, referiu.
Frisou, também, que a Europa passou a vida a auto-criticar-se: “A Europa está sempre a refazer os momentos mais marcantes do seu passado e isso distingue-a do resto do mundo, que não sente a necessidade de negação para com o seu passado e de reconstruí-lo”, frisou.
Depois de assinalar que a Europa viveu duas guerras mundiais no século 20, porque uma metade pensava que a outra “a queria devorar”, Eduardo Lourenço disse que a Europa “não precisa de ser refeita”, porque “cada nação europeia é uma maneira de ser Europa”.
Em sua opinião, “o que permite aos EUA serem o que são é falarem a mesma língua e terem uma memória recente, que lhes dá uma identidade”.
Em contraste – sublinhou -, “é muito difícil fazer a Europa pelo cultural, é um continente que não se pode comparar a outro pela sua diversidade cultural”.
Acentuou que em contacto com o novo mundo, os portugueses, do que se retira de uma carta de Pêro Vaz de Caminha, “ao contrário de outros europeus, não se espantaram com nada”.
“Esta espécie de inocência nossa podemos considerá-la uma benção divina. A nossa modéstia é uma riqueza”, afirmou ainda Eduardo Lourenço.
LM.
Lusa/Tudoben