Educação Especial: “É preciso muita habilidade para entrar no Mundo dos autistas”

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Pouco habituado a fotógrafos e operadores de imagem, Guilherme, um menino autista de cinco anos, desata a chorar com o aparato mediático que invade a sala de aula. “É preciso muita habilidade para entrar no Mundo deles”, diz uma das educadoras. “É melhor sairmos da sala”, aconselha a ministra.

    A ministra da Educação visitou ontem a Escola Básica Integrada com Jardim de Infância da Malagueira, em Évora, um dos estabelecimentos de ensino de referência no apoio a crianças com necessidades educativas especiais. Por isso, Maria de Lurdes Rodrigues reconheceu as dificuldades que estes estabelecimentos têm no dia-a-dia para encontrar as respostas adequadas.

    “Nunca as escolas do passado estiveram perante tão grande exigência como as escolas de hoje. As escolas que levaram mais longe o desafio da educação para todos têm obviamente mais difculdade que as restantes. O objectivo da escola para todos é ambicioso. É um trabalho difícil, onde todos os dias se procuram caminhos e soluções”, afirmou a ministra.

    No Centro de Recursos de Tecnologias de Informação e Comunicação para a Educação Especial da escola, a professora Rosália ajuda duas crianças: uma tem problemas graves neuromotores, enquanto a outra é invisual. A primeira trabalha através dos olhos, a outra através da voz. “Quem me deu formação foi um cego total. Fiquei fascinada”, conta a docente.

    Numa outra sala, cerca de 20 crianças estão a ter aulas. Entre elas, duas autistas em plena integração, apesar de ainda terem curtos períodos de ensino estruturado, em que trabalham à parte dos restantes meninos. É aqui que uma das crianças desata a chorar, após uma invasão mediática.

    “Ele está completamente integrado, mas não consegue participar em todas as actividades que os outros meninos fazem. Por exemplo, ouvir uma história e recontá-la. As outras crianças brincam muito com ele, protegem-no e ajudam-no”, conta Ana, a educadora.

    Numa sala ao lado, outras três crianças autistas realizam trabalho individual, devido às “grandes dificuldades de concentração”. “Precisam de estar só com a educadora, sem nada que os distraia. Não havendo estímulos à volta é mais fácil trabalhar”.

    “Agora vais tu fazer sozinho que eu quero ver se aprendeste. Eu não saio daqui”, avisa Maria Encarnação Calisto, enquanto conversa com a agência Lusa. Pouco depois, já a criança andava de pé. “É muito gratificante trabalhar com eles. No ínicio não é nada fácil, mas depois de os conhecermos é importante muita habilidade para entrarmos no Mundo deles e começarmos a comunicar”, confessa.

    Na aula de Língua Gestual Portuguesa, a professora pede aos meninos para que se apresentem à ministra da Educação. “Eu chamo-me José, tenho 13 anos, nasci em Estremoz e no futuro quero ser mêcanico de automóveis”, traduz a educadora. “Vamos precisar de muitos professores de LGP”, contrapõe a ministra, com um sorriso.

    “O país desde há muitos anos que não tem problemas de recursos em quantidade. Tem problemas ao nível dos recursos técnicos adequados. A mudança que fizemos na Educação Especial permitiu revelar que temos um enorme défice de professores que dominem a língua gestual, o que é absolutamente essencial para ensinar as crianças surdas”, comentou Maria de Lurdes Rodrigues, pouco depois.

    Mais à frente, a governante entra na Unidade Especializada de Apoio à Multideficiência. Hoje, a actividade do dia é “trapos e trapinhos”. Este ano, esta sala conta com quatro alunos, mas tem a ajuda diária de meninos do ensino regular. A ideia é sempre a da escola inclusiva.

    “É essencial a integração destas crianças no mesmo espaço físico da mesma escola, mas que tenham a atenção, o apoio técnico e o apoio especializado que necessitam para poderem progredir. Esta é a estratégia correcta, recomendada por peritos e por organizações internacionais. Não é misturar de forma indiferenciada”, sublinhou a ministra.

   

    MLS.

    Lusa/Tudoben

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