A maior noite de fados de sempre em olivença
Noite quente, mas não abafada. Rua da Caridade, sobre uma calçada portuguesa, de feitura recente. Com o edifício da Misericórdia de Olivença, com dois brasões portugueses (um deles “picado”) e um brasão espanhol. Um “café” novo (o bar Picasso). Um estrado, luzes, amplificadores e microfones. 21:30, hora espanhola. Mesas e cadeiras cobrindo metade da longa rua. Muita gente de pé. Decididamente, expetativas excedidas. Uma assistência maior do que em qualquer outra destes eventos.
Noite de Fados. Como num preâmbulo , um membro da Associação autóctone “Além Guadiana” (que luta pela recuperação da Cultura, Língua, e História, locais) a grande impulsionadora do que vai acontecer. Depois, sobem ao palco os dois instrumentistas, Mário Carriço e Paulo Cachinho. Depois, a fadista Soraia Branco. De negro, apesar de o seu nome significar “raio de sol”, e do deu apelido constituir também um contraste.
Soam a viola e a guitarra. E Soraia canta. E encanta. O público participa, batendo palmas, acompanhando refrões e estribilhos. É visível o entusiasmo, o prazer. Como dizia uma oliventina, era noite de “mergulhar nas raízes.
Até o Presidente da Câmara (o alcaide) vem dar uma curta espreitadela. Algumas das cadeiras, porque as do Bar eram insuficientes, pertenciam à edilidade. Mesmo assim, não chegaram.
A fadista, que já cantara em Olivença em 2010, acompanhada então por outros fadistas, está mais madura. E domina rapidamente a espetáculo. Um tanto surpreendida, talvez, no início, com tanta assistência, ela adapta-se e interage com o público. Até se cantam os “Parabéns a Você”, pois uma espatadora fazia anos.
Pedem-lhe que cante, uma e outra vez. Soraia anuncia que vai terminar. Mas não era possível, e os fados seguem-se, entremeados por solos virtuosos que os instrumentistas, de tempos a tempos, oferecem.
A fadista está cansada, mas sente que o ambiente não lhe dá possibilidades de repousar tão cedo. Ela é uma artista, e sabe “medir o pulso” à audiência. Quase no fim, perto da meia-noite, pedem-lhe que cante “por uma lágrima”. E ela fá-lo, com algum sofrimento, mas de forma brilhante.
O espetáculo termina. Todos estão felizes, artistas e público. Muito poucas pessoas se ausentaram antes do fim, apesar de o dia seguinte ser de trabalho.
Olivença, terra de mitos, sonhos, e sofrimento. Cada vez surpreendes mais quem te visita. As tuas reações são cada vez mais inesperadas. Será esse o teu fado?
Carlos Eduardo da Cruz Luna