Homossexualidade: Jovens católicos “vivem verdadeiros terrores” – Grupo Homossexual Católico
Jovens homossexuais portugueses “vivem verdadeiros terrores” por não conseguirem conciliar a sua orientação sexual com a fé católica e, nas igrejas, há fiéis que continuam a ocultar a sua homossexualidade com medo de represálias dos padres.
A denúncia é feita pelo Rumos Novos – Grupo Homossexual Católico, que promove, hoje e domingo, em Évora, o encontro ibérico “Uma Nova Consciência para um Tempo Novo”, reunindo 27 representantes de organizações cristãs de homossexuais de Portugal e Espanha.
Em declarações telefónicas à Agência Lusa, o responsável do Rumos Novos, que quis identificar-se apenas pelo nome de José, referiu que o encontro, o primeiro ibérico e aberto a participantes de outras orientações sexuais, pretende alertar a Igreja para a “integração de pleno direito” dos homossexuais católicos.
Segundo José, “alguma hierarquia da Igreja condena” a homossexualidade e “não há sacerdotes disponíveis para trabalhar com homossexuais cristãos”.
Os católicos com esta orientação sexual, embora “integrados nas paróquias”, continuam a mantê-la “sob anonimato”, com “receio de represálias dos sacerdotes e de serem postos à margem da comunidade”, sustentou.
Questionado sobre como os homossexuais católicos pretendem vincar os seus direitos mantendo-se incógnitos, José invocou que a saída do anonimato “é uma prática constante difícil”.
“Mas estamos a trabalhar nesse sentido”, afirmou.
O dirigente do Rumos Novos apontou ainda “alguns casos de jovens” homossexuais, de 18 e 19 anos, que “vivem verdadeiros terrores por não conseguirem conciliar a sua orientação sexual com a fé católica”.
São jovens sobretudo das regiões do interior, onde, de acordo com José, persiste uma “cultura religiosa mais fechada, conservadora, que defende que o sexo é apenas para procriação”.
A “caminhada” para ultrapassar estes dilemas passa por encontros de partilha promovidos pela associação e pela leitura e análise de textos bíblicos, a partir dos quais os adolescentes se “apercebem que a homossexualidade e a fé católica em nada colidem”, adiantou a fonte.
O encontro de hoje e domingo propõe-se ainda debater, numa “perspectiva cristã”, questões polémicas como o casamento e a adopção entre pessoas do mesmo sexo e a responsabilidade do Estado na promoção da Igualdade.
Sem se pronunciar sobre estas matérias, o responsável do Rumos Novos adiantou que do encontro sairá um documento que expressará a posição dos participantes sobre a união entre pessoas do mesmo sexo.
As conclusões do encontro serão ainda entregues aos presidentes das conferências episcopais portuguesa e espanhola, para que “façam eco” das mesmas à Santa Sé, acrescentou José, precisando que as associações de homossexuais católicos pretendem “estabelecer pontes de diálogo com a hierarquia da Igreja”, que “não se tem mostrado disponível”.
De acordo com o programa do encontro, disponível no portal do Grupo Homossexual Católico, o secretário-geral da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro, fará uma alocução sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e José Pureza, dirigente nacional do Bloco de Esquerda, acerca do papel do Estado na promoção da Igualdade.
ER.
Lusa/Tudoben