Jovens e voto útil no PS explicam perda de câmaras da CDU no Alentejo
Évora, 12 Out (Lusa) – As escolhas da “rapaziada” nova que “nunca passou fome” são apontadas pelos velhos comunistas como a razão principal para a perda de autarquias alentejanas pela CDU, enquanto que para os dirigentes partidários a causa está no “voto útil” no PS do eleitorado tradicional PSD.
“A malta nova é que votou PS”, disse à agência Lusa António Saldanha, 75 anos, habitante de Viana do Alentejo, cuja câmara, há 16 anos da CDU, foi “perdida” domingo para o PS.nEssa é também a opinião de duas moradoras de Alvito, Lucinda Costa – “Nunca passaram fome e não andaram a trabalhar de sol a sol”, disse – e Isabel Serra: “O PCP é um partido antigo e a malta nova pensa que é antiquado”.
Outro morador de Alvito, concelho vizinho de Viana do Alentejo que curiosamente passou para as mãos da CDU, justificou que “os idosos vão ‘abalando’ e uma grande percentagem dos mais novos seguem outro caminho”.
O responsável pelo PCP na região, José Catalino, recusou porém a perda de eleitorado jovem e a ideia “injusta” de que a CDU “foi punida”, preferindo destacar o “esvaziamento do PSD” na região.
“No conjunto do Alentejo o voto útil no PS foi o factor mais importante, com o desaparecimento completo das posições do PSD a favor dos socialistas”, disse, exemplificando com os casos de Beja, Aljustrel e Vila Viçosa.
A conquista da câmara comunista de Beja pelo PS também não surpreendeu o vendedor do mercado municipal e militante do PCP António Barão, 74 anos, que lamentou hoje a derrota, embora soubesse que esta “alguma vez teria que acontecer”. Já outra vendedora, Maria Ramos, 68 anos, expressou “muita alegria”, desabafando que “era hora do PS ganhar a câmara”.
Na esplanada de um café da vila mineira de Aljustrel, o simpatizante do PS Francisco Rocha, 61 anos, congratula-se igualmente pela vitória socialista, confessando que foi “um daqueles que votou para a mudança”. A intervenção do ex-ministro Manuel Pinho na reactivação das minas, “vergonhosa” na opinião deste comunista, “não influenciou o resultado eleitoral, senão o PS teria perdido”.
A CDU perdeu também Vila Viçosa, onde as conversas nos cafés ainda giram em torno da vitória socialista, como confirmou a funcionária de um café: “O clima é de satisfação”. É que o presidente derrotado “só mandava calcetar ruas”, afiançou, opinião corroborada pela colega da Casa do Benfica: “O que tenho ouvido ao balcão é que está tudo à espera que se faça mais e melhor. O concelho estava parado no tempo”.
Em Sines, que era liderado pelos comunistas, o presidente da câmara é hoje o mesmo, Manuel Coelho, mas o partido foi “trocado” por um movimento independente. “As pessoas queriam que ele ganhasse”, relatou a proprietária de uma gelataria.
“A gente aqui não vai pelo partido. É pelas pessoas”, sublinhou, enquanto que, na sede da CDU, militantes mostraram hoje “tristeza”, “mágoa” e “revolta” pela “traição” de Manuel Coelho.
O “enfraquecimento” dos comunistas no Alentejo ao longo dos últimos anos é também a interpretação de Manuel Bento, de 38 anos, de Monforte, cuja câmara passou igualmente da CDU para o PS. A verdade é que “existia um cansaço” do povo para com o executivo comunista, condescende Carlos Santos, também residente em Monforte. Mas recusa-se a aceitar que o PCP esteja a perder força na região.
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