Autárquicas: “Fenómeno dos independentes não crescerá no futuro” – investigadora do ISCTE
Nas autárquicas de domingo foram eleitos sete presidentes de Câmara por candidaturas independentes, igual número de 2005, o que representa, segundo uma especialista em poder local, um fenómeno que não crescerá no futuro.
“Não posso fazer futurologia, mas penso que o que se passou denota que este não é um fenómeno para crescer. O que me deixou mais chocada foi o caso de Lisboa, onde nas últimas eleições houve dois movimentos de independentes eleitos para o executivo. Pensei que seria uma situação para ter continuidade, mas não foi o caso”, afirmou à Lusa a investigadora Maria Antónia Pires de Almeida, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE).
Para estaa especialista em poder autárquico, a Câmara de Lisboa é representativa de um fenómeno que dificilmente crescerá no futuro, considerando a docente que “por ter chegado à câmara mais importante do país” seria “deduzível” que o fenómeno crescesse nas autárquicas deste ano. Essa situação, porém, “não se verificou”.
Em 2005, Gondomar, Oeiras, Felgueiras, Redondo, Alcanena, Alvito e Sabrosa foram as autarquias com triunfos independentes. Este ano, os eleitos em Gondomar, Oeiras e Redondo repetem triunfos, ao passo que Sines, Estremoz, Amares e Alandroal são as novas conquistas locais fora do âmbito partidário.
Nos casos de Gondomar e Oeiras, os concelhos mais populosos liderados por independentes (Valentim Loureiro e Isaltino Morais, respectivamente), Maria Antónia Pires de Almeida atribui ao “grande carisma dos candidatos” o triunfo nos municípios, excepções que confirmam a regra de que a grande camada de eleitos independentes se situa em zonas “mais rurais”.
Para a docente do ISCTE, o crescimento de eleitos independentes em eleições autárquicas renovaria o sistema político português. “No norte da Europa este fenómeno é visto como uma lufada de ar fresco, algo positivo, que revitaliza o poder local trazendo novidades ao sistema partidário”, refere a especialista, que indica Alemanha e Bélgica como países modelo a nível de participação independente na política local.
Das autárquicas de domingo resultaram ainda votações significativas de movimentos independentes que, sem atingir a maioria de votos, acabam por ser decisivos na formação de novos executivos municipais.
Na Figueira da Foz, por exemplo, o PS conquistou a câmara em minoria, com o movimento “Figueira 100 por cento” a eleger dois vereadores e a conquistar um número de votos que, caso se tivessem mantido no PSD, determinariam outro vencedor.
A norte, apesar de derrotados pelos partidos, diversos movimentos conseguiram afirmar-se como as segundas forças mais votadas no município, casos dos liderados por Narciso Miranda (Matosinhos), Fátima Felgueiras (Felgueiras) e Avelino Ferreira Torres (Marco de Canavezes).
PPF.
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