Agricultura: Chuva enche albufeiras, mas provoca prejuízos nos cereais, olivais e pastagens do Alentejo
Évora, 18 mar (Lusa) – Apesar de terem recarregado aquíferos e albufeiras, as fortes chuvadas deste inverno provocaram prejuízos na agricultura alentejana, sobretudo nas culturas de sequeiro, como trigo e cevada, nos olivais e nas pastagens naturais.
Nos campos de Beja, “muitas culturas”, sobretudo as de cereais de outono/inverno, “estão a sofrer as consequências” do mau tempo, disse hoje à Agência Lusa o presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA), Francisco Palma.
Apesar da água que “caiu em abundância” ter sido “muito benéfica” para “recarregar aquíferos e barragens que estavam com níveis muito baixos”, Francisco Palma observou que, “para quem fez culturas de outono/inverno, sobretudo de sequeiro, foi muito prejudicial”.
As culturas como o trigo e a cevada, que “não querem muita água”, são “as mais afetadas”, disse, precisando que “as raízes estão podres, os cereais estão a começar a ficar amarelados” e “as plantas não vão resistir até às colheitas, daqui a três meses e meio, e vão morrer”.
Este ano, “muitas das culturas” de cereais “não vão ter viabilidade”, ou seja, “as produções vão ser muito fracas” ou “vão dar zero ou muito próximo de zero”, lamentou.
“Excluindo alguns casos excecionais de terras altas e mais bem drenadas, na maior parte das terras, em zonas baixas e mal drenadas, vai tudo à vida”, disse.
A AABA estima que “cerca de 60 a 70 por cento” dos seus associados que produzem cereais de outono/inverno foram “afetados pelo mau tempo” e “vão ver o rendimento das suas culturas diminuir na ordem dos 80 por cento”.
Estas quebras na produção de cereais estendem-se também aos distritos de Évora e Portalegre.
O presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Évora (AADE), Francisco Carolino, disse à Lusa que os cereais e as forragens, semeados em outubro e novembro, “não terão tido as melhores condições de desenvolvimento”.
“A maioria das culturas de cereais e forragens está relativamente comprometida, porque os solos permaneceram alagados demasiado tempo”, afiançou, explicando que o excesso de água nas terras impossibilitou adubações e fertilizações.
Os stocks de forragens do ano passado, acrescentou, estão praticamente esgotados, porque não foi possível colocar os animais nas pastagens na altura própria.
“Existem casos em que os animais continuam presos e a serem alimentados à mão. Os solos ainda estão demasiadamente pesados e os animais não conseguem pastar porque se atascam”, disse.
Também o presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), António Bonito, alegou que “o excesso de água asfixiou as pastagens naturais e as culturas em zonas baixas”.
Este excesso de água, frisou, está também a inviabilizar a passagem de animais para pastagens mais férteis, o que provoca “grandes transtornos” aos agricultores.
“A maioria dos animais está ainda a ser alimentada a farinhas e palhas e os agricultores estão a ficar mais endividados com a compra de suplementos alimentares”, disse.
As fortes chuvadas causaram também prejuízos nos olivais um pouco por todo o Alentejo, com o dirigente da AADP a assegurar que se perderam “milhares de quilos de azeitona”, tal como aconteceu em Beja.
No distrito de Évora, o presidente da associação de agricultores confirmou que o olival também foi afetado pelas chuvas, prejudicando “30 a 40 por cento da produção”.
“Há uma percentagem muito elevada de azeitona que caiu para o chão antes de tempo, ficando inutilizada”, disse Francisco Carolino.
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*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Tudoben