Agricultura: Jerónimo de Sousa defende uma nova Reforma Agrária
Montemor-o-Novo, Évora, 17 fev (Lusa) – O secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje, em Montemor-o-Novo (Évora), uma nova Reforma Agrária em Portugal, como “parte integrante do desenvolvimento rural”.
O líder comunista falava durante uma cerimónia que serviu para assinalar os 35 anos do início da Reforma Agrária, iniciativa que decorreu no auditório da Junta de Freguesia da Vila, em Montemor-o-Novo, tendo no final recusado a responder a questões dos jornalistas.
“Um país como o nosso, com défices estruturais incomportáveis, precisa de uma nova Reforma Agrária, como parte integrante do desenvolvimento rural”, afirmou Jerónimo de Sousa.
Num discurso centrado na evocação da Reforma Agrária, Jerónimo de Sousa lembrou que “milhares de homens e mulheres passaram a trabalhar mais de um milhão de hectares de terra” e considerou que tal foi o concretizar “de um inovador programa de transformação económica e de justiça social”.
“O êxito da Reforma Agrária manifestou-se, essencialmente, no aumento da área cultivada, da produção e na realização de trabalhos numa perspetiva de desenvolvimento”, sustentou o líder do PCP, num auditório repleto de apoiantes e simpatizantes comunistas, muitos deles “protagonistas” da “ocupação de terras”.
Para Jerónimo de Sousa, as Unidades Coletivas de Produção (UCP’s) “tomaram medidas que conduziram a uma notável melhoria das condições de vida dos trabalhadores”.
“Estabeleceram salários fixos, diminuíram a diferença entre os salários dos homens e das mulheres, criaram creches, jardins de infância, centro de dia e postos médicos”, lembrou.
Por isso, o líder comunista afirmou que “este foi um dos raros períodos da história do último meio século no Alentejo, em que a região não conheceu o flagelo do desemprego, não perdeu população e viu muitos dos seus filhos regressar à terra”.
“Tratou-se ainda de uma ação que, num tempo em que a reação tudo fazia para o regresso ao passado fascista, deu um contributo determinante para a defesa e consolidação da democracia conquistada em abril”, acrescentou.
Jerónimo de Sousa destacou ainda o que considerou ter sido “a ofensiva criminosa que levou à liquidação” da Reforma Agrária, recordando que, na altura, existem 550 UCP’s, ocupando mais de um milhão de hectares de terra e assegurando 71 mil postos de trabalho.
“A famigerada Lei Barreto, como ficou conhecida a Lei 77/77, era uma lei claramente inconstitucional”, afirmou, lamentando a “destruição” da Reforma Agrária, o que levou “novamente ao Alentejo as terras abandonadas, a desertificação, o desemprego, a miséria e a fome”.
“Hoje, graças à Política Agrícola Comum (PAC) e às imposições da União Europeia (UE), algumas centenas de grandes agrários recebem milhões de euros sem que lhes seja exigida a produção de um grama sequer de alimentos”, disse.
SYM.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Tudoben