Arte: Malangatana prepara retrospectiva de 50 anos de carreira em Évora
O artista moçambicano Malangatana está a preparar uma grande exposição retrospectiva em Évora, com obras desde 1959 até à actualidade, uma oferta à Universidade de Évora que lhe vai conceder o grau de doutor honoris causa em Fevereiro de 2010.
Numa entrevista à Agência Lusa a propósito dos vários projectos que tem desenvolvido em Portugal, entre exposições e outros convites, o pintor afirmou que a próxima retrospectiva tem como objectivo “honrar a própria universidade”.
O artista nascido em Matalana, Moçambique, em 1936, ficou particularmente sensibilizado pelo facto de o doutoramento honoris causa lhe ser conferido no ano em que a Universidade de Évora cumpre 450 anos.
“Eu não poderia ficar indiferente a esta grande honra, e decidi retribuir com uma mostra do que fiz ao longo de 50 anos de trabalho, com duas ou três obras representativas de cada ano”, explicou.
A última grande exposição do trabalho de Malangatana em Portugal realizou-se em 1989 na Sociedade Nacional de Belas Artes, com mais de 200 obras de pintura, desenho, cerâmica e gravura.
Em Évora, no próximo ano, será montada uma retrospectiva com cerca de metade das obras, que estão ainda a ser solicitadas a colecções particulares e outras entidades como a Embaixada de Moçambique em Lisboa, o Centro Português para os Refugiados, a Assembleia da República. Outras obras serão provenientes da colecção do artista e da família.
Malangatana passou este ano sete meses em Portugal com vários projectos em mãos: fez uma exposição na galeria de arte do Teatro Municipal da Guarda, criou uma obra de arte pública para o município do Barreiro, a primeira do artista no território português, e encetou ainda contactos para criar outra obra no Parque dos Poetas, em Oeiras.
Estar tanto tempo longe de Moçambique “não é fácil”, admitiu. Contudo, a forte ligação a Portugal faz deste país o segundo onde existem mais obras do artista, logo a seguir a Moçambique.
“Quando estou empenhado num projecto noutro país tenho que fazer uma entrega física e espiritual”, disse à Lusa na entrevista que decorreu no estúdio e residência que possui em Lisboa.
Antes de se tornar artista profissional, nos anos 1960, Malangatana foi pastor, aprendiz de medicina tradicional, empregado do clube da elite colonial da então Lourenço Marques, depois Maputo.
Foi graças ao apoio do arquitecto português Pancho Guedes, que lhe cedeu uma garagem para atelier, que começou a dedicar-se às artes: pintura, desenho, escultura, aguarela, gravura, cerâmica e tapeçaria.
A preferência continua a ir para a pintura, e a inspiração vem ainda do quotidiano: “Há sempre um manancial de temas a abordar. São os acontecimentos do mundo, às vezes tristes, outras alegres, e eu não fico indiferente. Seja em Moçambique, ou noutra parte do mundo, a dor humana é a mesma”.
Na terra natal, Malangatana impulsionou o projecto Associação do Centro Cultural de Matalana para o desenvolvimento profissional das populações locais, trabalho artístico, etno-antropológico e ecológico.
Desde 1960 que participa em exposições colectivas ou individuais em Moçambique, África do Sul, Angola, Nigéria, Brasil, Cuba, Bulgária, Checoslováquia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Holanda, Índia, Islândia, Suécia, Noruega, Paquistão e Portugal.
Tem murais pintados ou gravados em vários pontos do mundo e a sua obra está representada em colecções particulares e públicas em diversos países.
AG.
Lusa/fim