Artigo de opinião – Enfrentar o futuro com coragem e solidariedade
Por Sofia Moreira de Sousa – Representante da Comissão Europeia em Portugal
Este ano, pela primeira vez, os europeus debateram o Estado da União com uma guerra a devastar solo europeu. Desencadeada pela agressão russa à Ucrânia, a invasão representou um momento de viragem, a partir do qual todo o continente se mobilizou, solidário. Os europeus não viraram a cara nem hesitaram e, a partir desse momento, toda a União esteve à altura dos acontecimentos.
O discurso sobre o Estado da União, proferido pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, perante o Parlamento Europeu, no dia 14 de setembro, capturou e resumiu o momento que vivemos: “Despertámos a força interior de que é feita a Europa”.
E vamos precisar de toda essa força, pois os meses que se avizinham não serão fáceis. Está muita coisa em jogo, para a Ucrânia, mas também para toda a Europa e para o mundo em geral. Esta é uma guerra contra a nossa energia, contra a nossa economia, contra os nossos valores, enfim, como disse a Presidente, uma guerra contra o nosso futuro.
Com a mesma solidariedade e coragem com que apoiámos os ucranianos que enfrentam os tanques russos, vamos preparar-nos para fazer face às consequências socioeconómicas da guerra. Pagar as contas ao fim do mês está a tornar-se uma fonte de ansiedade para milhões de famílias e empresas.
Por este motivo, estamos a avançar com medidas para reduzir o consumo global de eletricidade, mas também com apoios mais específicos para as indústrias e para as famílias. Os países da União já investiram milhares de milhões de euros em apoios às famílias vulneráveis, mas sabemos que isto não será suficiente. Por isso, a Comissão Europeia vai propor um limite máximo para as receitas das empresas que produzem eletricidade a baixo custo e também a indústria dos combustíveis fósseis será chamada a contribuir.
Mas enquanto aplicamos soluções rápidas, temos que nos preparar para uma mudança de paradigma e construir a economia do futuro com o Pacto Ecológico Europeu como pilar desta transformação. O verão de 2022, com leitos de rios secos, florestas em chamas e calor extremo, mostrou como a situação é grave. Nenhum país pode lutar sozinho contra estes fenómenos meteorológicos extremos e a sua força devastadora.
E porque também é aqui que se vê a solidariedade europeia em ação, a Comissão vai duplicar a sua capacidade de combate a incêndios com a aquisição de novos meios aéreos para acrescentar à nossa frota, que já ajudou Portugal em momentos críticos.
Nos últimos anos, a Europa tem demonstrado o que é capaz de fazer quando se une. Passámos de uma situação em que não tínhamos qualquer vacina para outra em que garantimos mais de 4 mil milhões de doses para os cidadãos da Europa e do mundo. Após uma pandemia sem precedentes, a nossa produção económica ultrapassou os níveis anteriores à crise em tempo recorde.
Isso foi possível porque todos nos unimos em torno de um plano de recuperação comum, o NextGenerationEU, que apoia o Plano de Recuperação e Resiliência português, cujo contributo está apenas no início: ao nível europeu foram desembolsados 100 mil milhões de euros, mas falta ainda injetar 700 mil milhões de euros na nossa economia. Vamos aplicar o dinheiro onde ele é preciso.
O discurso do Estado da União é também um momento para olhar para o mundo à nossa volta. Vivemos um momento crítico na política mundial que exige repensar a nossa agenda de política externa. Está na hora de investir no poder das democracias. Temos que trabalhar de forma ainda mais estreita com os parceiros que partilham as mesmas ideias, mas não devemos perder de vista a forma como autocratas estrangeiros estão a visar os nossos países. Temos de nos proteger melhor de interferências nefastas e por isso apresentaremos um pacote de Defesa da Democracia que permitirá detetar influências estrangeiras dissimuladas e financiamentos duvidosos.
A ideia dos fundadores da nossa União foi apenas assentar a primeira pedra da nossa democracia, cientes de que seriam as gerações futuras a acabar o seu trabalho. E o exemplo a que assistimos na resposta solidária com a Ucrânia e entre europeus é o que a nossa União representa e o que se esforça por alcançar, quando mostrámos o que os europeus são capazes de fazer quando se unem em torno de uma missão comum. É esse o espírito da Europa: uma União que se mantém forte e unida e que assim prevalecerá.
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