Carnaval: Festa da “subversão social” perdeu o carácter sagrado há meio século

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carnaval09_elvasCelebrado há séculos com “espalhafato”, o Carnaval nasceu e espalhou-se pelo mundo sob um carácter sagrado, uma base perdida há meio século com “o fim do prestígio da Quaresma” e o aumento das brincadeiras de “subversão social”.

A origem da denominação Carnaval não reúne consenso entre os historiadores: as duas teorias mais conhecidas dividem-se entre uma conotação religiosa, em que a palavra resulta do latim “carnevale” (junção de carne e adeus, que designaria o último dia em que era permitido comer carne, antes da Quaresma), e a influência das festas em honra de Dionísio, nas quais um cortejo de carros (“carrus navalis”) distribuía vinho ao povo de Roma.

O sociólogo Moisés Espírito Santo, estudioso das religiões, defende, contudo, outra tese, que vai buscar ao Médio Oriente, onde os calendários solares eram fortemente assinalados, a expressão “carr nabal”, isto é, a festa dos loucos.

O especialista explicou à Lusa que as celebrações carnavalescas decorriam na região com um fundamento sagrado ainda antes do nascimento de Cristo, numa festa babilónica praticada pelos judeus e descrita na Bíblia, motivada para comemorar o fim do inverno e o início das sementeiras.

“As pessoas faziam espalhafato e barulho, condenavam e enterravam simbolicamente, em teatros, os poderosos, os opressores e os líderes religiosos e mudavam os papéis sociais, vestindo-se de rico ou do sexo oposto. Era uma festa de subversão social”, descreveu.

A temática manteve-se mais tarde, quando o Carnaval se estendeu ao Mediterrâneo e passou a chamar-se Entrudo (entrada), ficando “arrumado” no calendário cristão como uma despedida do profano para entrada no período da Quaresma.

Apesar da conotação ao sagrado, a Igreja Católica sempre suspeitou deste período de “desregulação”: até há cerca de “50 ou 60 anos” organizava uma reza de quarenta horas, durante a qual os fiéis se revezavam na igreja para “reparar os males e abusos” praticados.

Hoje, o Catolicismo já não se interessa nem tenta combater a festa, que se tornou tipicamente profana.

“O Entrudo passou a ser Carnaval sem nada de sagrado com o fim do prestígio da Quaresma, há uns 50 anos, talvez”, diz Moisés Espírito Santo.

Por todo o mundo, as celebrações desdobram-se em desfiles e bailes de máscaras e, em alguns casos, como no Rio de Janeiro ou Veneza, já se tornaram tradições fundamentais na cultura local.

Em Portugal, são cada vez mais as cidades que aderem à festa – instituições e escolas participam em corsos, figuras públicas são chamadas a protagonizar desfiles e as autarquias tentam inovar através da tecnologia (as festas da ilha Terceira vão ser transmitidas na Internet) ou com marcas próprias.

Em Sines, por exemplo, realiza-se o Carnaval dos Pequeninos e o Carnaval Sénior, enquanto que a Covilhã promove o Carnaval da Neve.

ROC.

*** Este texto foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico. ***

Lusa/fim

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