Casa Pia: Carlos Cruz recusa pedir “clemência”, outros arguidos reiteram inocência
O apresentador televisivo Carlos Cruz, arguido no processo Casa Pia, recusou ontem pedir “clemência” ao tribunal, reiterando a sua inocência e pedindo a “absolvição completa e absoluta”.
“Se eu tivesse cometido os crimes [de abuso sexual], pedia clemência, uma pena mais leve, explicava atenuantes. Mas a verdade não o permite. São crimes que nunca cometi nem nunca pensei cometer”, afirmou nas suas declarações finais, frisando que considera o abuso de crianças “um dos piores crimes que se pode cometer”.
Afirmando-se “assassinado civicamente” pelo seu envolvimento num processo “construído em cima de mentiras e de histórias inventadas”, Carlos Cruz disse que a forma como o processo “nasceu e cresceu” já “impediu que a verdade seja toda descoberta”.
“Apelo à vossa consciência, reflexão e racionalidade”, disse, dirigindo-se ao coletivo de juízes presidido por Ana Peres, salientando que “a justiça é um valor puro e não pode andar ao sabor de pressões ou da opinião pública, que é no fundo a opinião publicada”.
O apresentador pediu aos juízes que façam “uma análise com independência” dos argumentos e provas que apresentou em sua defesa.
Se entrar na “estatística dos condenados inocentes”, Carlos Cruz afirmou que não se “curvará”, lutando pela “reparação do que seria um terrível erro judiciário”.
“Um erro não pode justificar outros”, disse também, defendendo que só com “pré-juízo ou preconceito” o coletivo poderá pronunciar-se pela sua culpa.
Durante os últimos sete anos, desde o surgimento do caso na comunicação social, o apresentador afirmou que vive já “uma pena de peso indescritível”.
Carlos Cruz “jurou” a sua inocência perante os juízes, afirmando que nunca deixará de “a reafirmar”.
“Por estar inocente, o que peço é a justiça, neste caso, a absolvição completa e absoluta”, reforçou.
Quanto ao ex-provedor adjunto da Casa Pia, Manuel Abrantes, pediu também a absolvição dos crimes sexuais de que está acusado, afirmando que não fez “nada de mal” aos jovens casapianos que o acusaram.
“Não tenho nada a ver com isto. Enquanto provedor, fiz tudo para que tivessem uma vida melhor”, afirmou.
Manuel Abrantes referiu-se às alterações não substanciais ao despacho de pronúncia relativas às acusações que sobre si pesam, afirmando que, ao comunicá-las, o tribunal mostrou que o ex-provedor adjunto não foi “capaz de transmitir” que está inocente.
“Não menti ao tribunal, estive e estarei ao dispor para esclarecer o que souber”, declarou, frisando que é “o único dirigente” da Casa Pia no banco dos réus.
O embaixador Jorge Ritto reiterou também a sua inocência, apoiando-se na “argumentação exaustiva” que a sua defesa fez ao longo do julgamento.
“Não cometi nenhum dos atos que me são imputados”, afirmou, indicando também “surpresa” pelas alterações não substanciais comunicadas pelo tribunal.
O advogado Hugo Marçal e Gertrudes Nunes, dona de uma casa de Elvas onde alegadamente ocorreram abusos sexuais, reiteraram também a sua inocência, afirmando que não têm nada a ver com as acusações de que são alvos.
Neste processo respondem também o médico Ferreira Diniz e o ex-motorista da Casa Pia Carlos Silvino.
Este julgamento está a decorrer no Campus da Justiça de Lisboa.
APN
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Tudoben