Cultura: Bibliotecas precisam de mais investimento para maior promoção da leitura, defendem especialistas
Évora – O “importante” papel das bibliotecas na promoção da leitura é o tema de uma conferência internacional que decorre em Évora, onde alguns especialistas defenderam que, com mais investimento, esses efeitos práticos poderiam ser maiores.
“É claro que é importante o papel das bibliotecas na promoção da leitura. Se não as tivéssemos, obviamente que as pessoas liam menos”, realçou ontem à agência Lusa José António Calixto, organizador da conferência.
Contudo, frisou o mesmo responsável, director da Biblioteca Pública de Évora (BPE), esse trabalho poderia ter “mais efeitos práticos”, mas “para isso era preciso investir mais nas bibliotecas”.
“Era preciso que houvesse mais pessoal e dinheiro para comprar livros. Ouvimos queixas frequentes de bibliotecários, que não têm dinheiro suficiente das autarquias para comprar livros”, indicou.
“Bibliotecas e Leitura” é o tema central da II Conferência Internacional Bibliotecas para a Vida, que está a decorrer em Évora, desde quarta-feira e até sábado.
O evento é promovido pela BPE e pelo Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) da Universidade de Évora, juntando mais de 260 participantes.
“O programa é muito diversificado e, além de especialistas nacionais e estrangeiros, da Dinamarca, Inglaterra, França e Espanha, temos cerca de 30 comunicações livres, que chegaram também de Espanha e do Brasil”, disse José António Calixto.
José Soares Neves, do Observatório das Actividades Culturais (OAC) e um dos oradores do encontro, apresentou os resultados de um inquérito às “Práticas de Promoção da Leitura nas Bibliotecas Públicas em Portugal”.
O trabalho, baseado em dados referentes ao ano passado, abrangeu um universo de 278 bibliotecas públicas municipais, tendo sido consideradas 170 respostas válidas.
O estudo aborda, por exemplo, quais as dificuldades das bibliotecas na concretização de projectos de promoção da leitura, lista que é encabeçada pela escassez de recursos financeiros (79,7 por cento das respostas), logo seguida pela falta de pessoal (59,4 por cento), assim como outros constrangimentos.
“Já foi aqui muito evidente a falta de recursos humanos que afecta as nossas bibliotecas. Uma bibliotecária dinamarquesa até chamou a atenção que o número de pessoas que trabalha nas bibliotecas públicas do seu país é incomparavelmente maior do que em Portugal”, frisou o organizador.
Por isso, “não se pode obviamente fazer um trabalho mais sério de promoção da leitura, se não há pessoas em número suficiente para essa tarefa”, alertou, defendendo a “grande necessidade” em Portugal de uma lei específica para as bibliotecas, como as que existentes “para os museus ou teatros”.
A II Conferência Internacional Bibliotecas para a Vida, que surge depois de uma primeira edição em 2005, aquando do bicentenário da BPE, integra ainda várias acções de formação, visitas, teatro, exposições e uma concentração de bibliotecas itinerantes de vários pontos do país.
RRL.
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