Curiosidade: Metade dos estudantes do secundário são virgens, rapazes e raparigas têm comportamentos parecidos
Os comportamentos sexuais de rapazes e raparigas do ensino secundário estão cada vez mais parecidos, sendo que metade dos alunos portugueses do 10º e 12º ano é virgem, segundo um estudo hoje divulgado.
“Existe uma tendência de convergência dos comportamentos sexuais dos homens e mulheres”, disse Pedro Moura Ferreira, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ISC) da Universidade de Lisboa, co-responsável pelo inquérito sobre educação sexual realizado a 2.621 alunos de 63 escolas portuguesas.
De acordo com o estudo, realizado em parceria com a Associação para o Planeamento da Família (APF), as idades médias da primeira relação sexual dos rapazes e raparigas estão cada vez mais próximas: 14 anos para os homens e 15 para as mulheres.
No entanto, estes números não correspondem à média nacional dos jovens, já que está inflacionado pelo facto de metade dos inquiridos ainda não ter tido esta experiência. Se o inquérito fosse feito numa altura em que os actuais “virgens” já tivessem tido a sua primeira experiência, a idade média iria subir consideravelmente, explicou o investigador.
Os responsáveis pelo estudo salientam, também, que estes resultados caracterizam o universo dos alunos a frequentar o secundário e não toda a juventude portuguesa.
Dos mais de 2.600 alunos inquiridos, “metade já teve relações sexuais e a maioria tem comportamentos preventivos”, sublinhou o investigador do ISC.
“A maior parte dos jovens que já teve relações sexuais vive bem com essa experiência, o que poderá estar relacionado com melhores níveis de educação sexual”, disse por seu turno Duarte Vilar, investigador da APF.
Segundo este especialista, a educação sexual permite aos jovens sentirem-se “menos pressionados para iniciarem relações sexuais” e ter uma “maior segurança” na primeira vez.
No entanto, ao contrário do que se poderia pensar, a educação sexual atrasa a idade da primeira experiência no caso dos rapazes. Pedro Moura Ferreira atira uma justificação possível: “A educação sexual vai aligeirar a importância da sexualidade na masculinidade”, “desmonta mitos da masculinidade e impõe uma menor pressão normativa”.
Quanto aos conhecimentos dos jovens sobre o tema, os dois investigadores consideram que a maioria dos alunos está bem informada, nomeadamente no que toca ao uso de preservativo, masturbação ou ejaculação nocturna.
Existe, no entanto, uma “minoria de questões” em que quase todos falham: período fértil e gravidez, onde adquirir contraceptivos, como tomar a pílula e pílula do dia seguinte.
Outro dos resultados preocupantes prende-se com o facto de quase metade dos jovens ter poucos conhecimentos sobre o “método do calendário”, que consiste em fazer a contagem do período fértil para evitar uma gravidez. Isto porque, lembrou Pedro Moura Ferreira, “é um método muito usado por esta geração”.
No entanto, esta não é a única matéria onde existem dúvidas. Temas como as doenças sexualmente transmissíveis, que não a SIDA, mostraram-se ser de resposta difícil por parte da grande maioria dos jovens entre os 15 e os 18 anos.
Apenas menos de 25 por cento acertou nas questões relacionadas com a sífilis. Para os investigadores este desconhecimento poderá estar relacionado com as fortes campanhas sobre SIDA e preservativos que “abafaram” a gravidade das outras infecções – como a sífilis e a gonorreia – e métodos contraceptivos.
O estudo permitiu ainda descobrir que para os jovens o grande perigo das relações sexuais é o risco de gravidezes indesejadas e não o de apanhar doenças sexualmente transmissíveis.
Durante a realização dos inquéritos, os investigadores encontraram 16 raparigas e 11 rapazes que admitiam ter tido uma gravidez indesejada. “Destes casos, sete resultaram em nascimento de uma criança, sete em aborto espontâneo e dez em aborto voluntário”, lembrou Duarte Vilar.
Também preocupante é o facto de cerca de metade os jovens terem respondido erradamente à única questão relacionada com a homossexualidade. Apenas metade reconheceu a homossexualidade como uma expressão da sexualidade, enquanto os outros acharam que se tratava de “uma doença”, algo que “contraria a divisão dos sexos”, ser uma “fase por que as crianças passam” ou todas estas juntas.
Quando chega a hora de partilhar experiências e tirar dúvidas, a maioria (70 por cento) escolhe os amigos como confessores e fonte de informação e menos de metade (40 por cento) opta pela mãe. O papel dos docentes é importante para três em dez jovens que disseram recorrer ao professor para falar sobre temas como a SIDA, a contracepção e a violência.
Duarte Vilar sublinha que “a escola tem alguma relevância na educação sexual dos jovens”, mas alerta para o facto de o estudo indicar que os alunos mais velhos têm menos acesso à educação sexual do que os mais novos:”um terço dos jovens ainda não teve oportunidade para abordar estas questões”.
“Há aqui um gap (fosso) no que toca à intervenção das escolas, já que há menos informação junto dos alunos do ensino secundário, onde há mais jovens sexualmente activos, do que no terceiro ciclo”, Duarte Vilar.
SIM
Lusa/Tudoben