Escrita na Paisagem – festival de performance e artes da terra 2012
O Festival Escrita na Paisagem regressa ao Alentejo, nos meses quentes de Verão, para a sua 9ª edição. Sempre de olhos postos na paisagem e em novas formas de pensar o território, enquanto espaço cultural e artístico, mas também carregado de tradições e testemunhos, o Festival Escrita na Paisagem abre assim, mais uma vez, as portas do Alentejo às artes e linguagens contemporâneas, subordinadas ao tema global cosmopolíticas.
Que significa cosmopolítica? No contexto actual, a palavra remete desde logo para a afirmação de uma dimensão global através da qual se propõe o contacto com a circunstância multi-cultural e plural das comunidades, com a diversidade das escalas de pertença e de identidade dos sujeitos (entre o local e o global, entre o ‘aqui e agora’ e as mobilizações globais), em busca dos cruzamentos de influências que nas linguagens da arte e da cultura tão fortemente encontram expressão.
Atento ao apelo ético, político e cultural do tempo presente, o palco que o festival configura não pode, pois, deixar de ser cosmopolítico, trazendo uma programação que explora e acolhe o diverso, o estranho, o emigrante, o marginal, o profano, o subalterno e tantas outras figuras da tensão, da assimetria, enfim, da política. Na diversidade de expressões que nele tem lugar, a programação do festival procura, assim, dar o seu contributo para o caminho deste tempo — alentejano, português, europeu — em direcção, talvez, ao projecto de uma «Europa cosmopolita […], a última utopia política efectiva» (Daniel Innerarity em O Novo Espaço Público (Lisboa, Teorema, 2006).
Divina Comédia, um projecto de criação teatral de âmbito europeu, é o destaque de abertura da programação de 2012. Vai estrear em Portugal, de 4 a 7 de Julho, e ocupa um palco extraordinário na paisagem alentejana, uma pedreira de mármore desactivada, situada em Vila Viçosa.
Este projecto, que resulta de um trabalho com início já em 2010, é uma co-produção da Colecção B / Festival Escrita na Paisagem com a companhia finlandesa Myllyteatteri, um grupo internacional de teatro estabelecido em Helsínquia desde 2003. Conta com o financiamento do Programa Cultura e envolve artistas provenientes de Portugal, Grécia, Japão e Finlândia.
Concebida pela encenadora finlandesa Miira Sippola, directora artística do Myllyteatteri, a peça Divina Comédia nasce com base no clássico escrito por Dante no século XIV e aborda o tema intemporal do confronto de um homem consigo próprio, uma viagem pela crise interior e a constante tentativa de fuga. Mas é a partir do trabalho visual de forte inspiração estética em autores vanguardistas como Tadeusz Kantor que o trabalho de Miira Sippola ganha forma e atinge o seu devir, transformar o poema épico em arte de palco, recriando o eterno palco da mente humana.
Com inspiração na história do pensamento ocidental e forte tradição teatral, a companhia Myllyteatteri concebe, neste espectáculo, um novo espaço para o processo artístico, a partir da criação de novas linguagens interpretativas, de novas estéticas de palco com o uso de objectos, música, sons e luzes que se apropriam do próprio espaço de actuação. Mais do que apenas o discurso ou a música, é a sinfonia dos elementos artísticos que constitui a grande aposta da Divina Comédia, uma exigente combinação de visualidade, dança e teatro a marcar o trabalho dos actores do grupo Myllyteatteri, no cenário deslumbrante da Pedreira da Gradinha (Vila Viçosa).
Em breve toda a programação do Festival Escrita na Paisagem em www.escritanapaisagem.net.