Estela com maior inscrição da Escrita do Sudoeste desvendada quarta-feira

Views: 1194

A estela funerária com a maior inscrição da Escrita do Sudoeste e achada recentemente no concelho de Almodôvar (Beja) vai ser “desvendada” quarta-feira, no museu daquela vila alentejana dedicado à mais antiga escrita da Península Ibérica.

    A Estela Mesas do Castelinho, achada no início deste mês, durante a campanha de escavações que decorre no sítio arqueológico com o mesmo nome, na freguesia de Santa Clara-a-Nova, vai ser apresentada ao público quarta-feira, às 15:30, no Museu da Escrita do Sudoeste, onde ficará exposta.

    “É uma estela notável pelo bom estado de conservação e, em especial, pela extensão do texto, com 86 signos identificáveis, o que permite considerá-la a estela com a inscrição mais extensa de Escrita do Sudoeste”, explicou hoje à agência Lusa Amílcar Guerra, arqueólogo e coordenador científico da actual campanha de escavações no sítio Mesas do Castelinho, um povoado fortificado da Idade do Ferro.

    Trata-se de “um achado magnífico, cuja longa extensão de texto vai ajudar a compreender melhor a Escrita do Sudoeste”, disse o arqueólogo, explicando que “a maior parte” das outras 90 estelas achadas na Península Ibérica tem textos “muito curtos e fragmentários”, o que “tem dificultado a identificação e a compreensão” da mais antiga escrita da Península Ibérica.

    A estela funerária em pedra de xisto foi achada por uma equipa de arqueólogos e alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa “fora de contexto, no meio de uma rua do período pré-romano e com a face da inscrição virada para baixo”.

    “Já tinha sido identificada uma pedra na zona e estávamos na expectativa, mas ficámos surpreendidos quando virámos a pedra e verificámos que era uma estela epigrafada com Escrita do Sudoeste”, contou Amílcar Guerra.

    A estela, cuja origem data da primeira Idade do Ferro, entre os séculos VII e V a.C., vai juntar-se, a partir de quarta-feira, às 20 estelas funerárias em exposição no Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar, o concelho que “é uma das áreas da Península Ibérica com uma das maiores e das mais importantes concentrações” daqueles achados, disse o arqueólogo.

    Criado pela autarquia no edifício do antigo Cine-Teatro Municipal, no centro histórico da vila, o museu abriu a 19 de Outubro de 2007 para “expor alguns dos mais importantes achados arqueológicos epigrafados com caracteres da Escrita do Sudoeste”, sobretudo estelas funerárias, ou seja, colunas tumulares em xisto, nas quais os antigos faziam inscrições e eram colocadas ao alto nas sepulturas.

    O museu, que, quase a comemorar um ano de vida, já recebeu mais de mil visitantes, segundo a autarquia, abriu com 20 peças, entre as quais está o espólio permanente de 16 estelas achadas no núcleo arqueológico de Almodôvar e que fazem parte das 75 descobertas em território português e de um total de 90 conhecidas na Península Ibérica.

    Até à descoberta da Estela Mesas do Castelinho, a Estela de São Martinho, com cerca de 60 signos identificados e achada no sítio arqueológico com o mesmo nome, na freguesia de São Marcos da Serra, no concelho algarvio de Silves, era considerada a estela com uma das inscrições mais extensas de Escrita do Sudoeste, lembrou Amílcar Guerra.

    A Escrita do Sudoeste ou Tartéssica, da I Idade do Ferro no Sul de Espanha e Portugal, foi desenvolvida pelos Tartessos, o nome pelo qual os gregos conheciam a primeira civilização do Ocidente, que se terá desenvolvido nas zonas das actuais regiões da Andaluzia espanhola e Baixo Alentejo e Algarve.

    A escrita dos Tartessos, que tiveram influências culturais de Egípcios e Fenícios, explicou Amílcar Guerra, “é distinta das dos povos vizinhos, complexa e permanece indecifrável até à actualidade”.

    Classificado em 1990 como Imóvel de Interesse Público, o sítio arqueológico de Mesas do Castelinho foi um amplo povoado fortificado com quase três hectares e vestígios de povoamento desde a Idade do Ferro e que terá sido fundado por volta dos séculos IV ou V a.C.

    As campanhas arqueológicas realizadas desde 1987 permitiram descobrir várias fortificações, construídas entre a Idade do Ferro e o período omíada, e vestígios de vários povos, sendo os mais abundantes de origem romana e os mais recentes de origem árabe.

    LL.

    Lusa/Fim

Comments: 0