Évora: Festival Imaterial – 3a Edição | 19 a 27 de maio – Évora

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As conversas fazem parte de uma reflexão coletiva, porque não há
pensamento sem escuta
De 19 a 27 de maio, o Património Imaterial será novamente pensado e homenageado em Évora, nas suas várias
formas, na 3a edição do Festival Imaterial. O ciclo de conferências terá início no dia 20 de maio, às 15h no Palácio
do Vimioso na Universidade de Évora através de uma visita guiada ao LABORATÓRIO HERCULES, com José Mirão,
diretor do Hercules e António Candeias, coordenador do IN2 PAST. O Laboratório HERCULES é uma das unidades
de investigação europeias mais conhecidas no âmbito do estudo e salvaguarda do Património Cultural. A sua
capacidade científica tem permitido realizar trabalhos muito diversos, sobre a pintura de Edvard Munch passando
pelos murais de Almada Negreiros, os tapetes de Arraiolos ou a Biblioteca Vaticana. Uma oportunidade única.
Esta iniciativa está limitada à lotação do espaço, sendo necessária uma inscrição prévia.
No mesmo dia, pelas 18h00 no Teatro Garcia de Resende decorrerá a apresentação de MUSIC, ARTS, SCIENCE
AND THE DECOLONISATION OF HISTORY pelo historiador Sanjay Seth. Nas últimas décadas, a crítica pós-colonial
tem chamado a atenção para o caráter situado de todo o conhecimento e, em particular, do que é produzido pela
História e pelas Ciências Sociais. Tendo como pano de fundo este contexto, o historiador Sanjay Seth explorou
recentemente os desafios que a música, a arte ou a ciência colocam à disciplina da História e a alguns dos seus
pressupostos fundamentais. Seguir-se-á um debate, que contará com o musicólogo João Pedro Cachopo, a
historiadora de arte Mariana Pinto dos Santos e o historiador Luís Trindade.
No dia 21 de maio, pelas 16h no Teatro Garcia de Resende vamos até Cuba, CUBA A CUBA: DO ALENTEJO AO
CARIBE, contando com a participação de Catarina Laranjeiro e José Neves, investigadores do IHC/IN2PAST. Esta
conversa abordará a viagem que Amílcar Cabral iniciou em Cuba no início dos anos 50. Realizou a sua monografia
de fim de curso, dedicada à problemática da erosão do solo naquela zona. Já Engenheiro Agrónomo, partiria
depois para a Guiné, ao serviço do Estado colonial, mais tarde comprometendo-se com a luta contra o Império
Português, mobilizando apoios internacionais muito variados, entre eles destacando-se, a partir de meados dos
anos 60, o de Cuba. Este apoio assumiu uma componente militar, mas também formação cultural, nomeadamente
no domínio do cinema. Nesta comunicação, onde serão exibidos documentos, fotografias e filmes de arquivo,
propõe-se uma viagem transnacional pela segunda metade do século XX.
24 de maio às 18h00 no Teatro Garcia de Resende, é chegado o momento de conversar sobre o Cante Alentejano.
O CANTE COMO LUGAR DE FUTURO, com Amílcar Vasques Dias, João Matias e Patrícia Portela, moderado por
Gonçalo Frota. O cante como lugar de futuro. A inscrição no Património Imaterial da Humanidade traz consigo
uma responsabilidade na preservação das músicas e das culturas que figuram nessa lista. Porque a seleção da

UNESCO não pretende ser um arquivo de manifestações passadas à História, mas antes um compromisso atuante
de salvaguarda de costumes que possam saber perpetuar-se no tempo. A preservação, no entanto, não deve ser
uma prisão e “embalsamar” géneros vivos. Deve permitir-lhes criar novas declinações e encontrar formas de se
manter relevante. No caso do cante coral polifónico alentejano, algumas tentativas recentes de criar novo
reportório fazem pensar em caminhos que o género pode tomar, permitindo expandir-se e repensar-se, e não
apenas replicar a mesma imagem que o género possa ter de si. A sobrevivência depende também, afinal, de
continuar a fazer sentido para novos intérpretes e novos criadores.
No dia 26 de maio pelas 19h00, no Teatro Garcia de Resende o Festival Imaterial recebe uma delegação das
Seychelles, que fará a APRESENTAÇÃO “Inscrição das Culturas Crioulas no Património Cultural Imaterial da
Humanidade da UNESCO”. A partir de uma iniciativa do National Institute for Culture, Heritage and the Arts das
Ilhas Seychelles, avança uma candidatura que defende a inclusão das culturas crioulas na lista de Património
Imaterial da UNESCO. Ao contrário das habituais propostas que se centram em expressões culturais próprias de
uma região concreta, neste caso é uma identidade crioula – comum a várias geografias – que pretende ver
reconhecida a sua especificidade e a riqueza do seu património comum. É a valorização dessa cultura, com efeitos
e marcas em áreas tão distintas quanto educação, arquitetura, empreendedorismo, ambiente, planeamento
urbanístico, habitação, imigração, artes, gastronomia, etc., partilhada por várias comunidades, que se encontra
no centro desta justa pretensão. E que nos implica na certeza de que as culturas não existem delimitadas por
linhas traçadas num mapa.
Quase a terminar, apresenta-se AN(OTHER) ART OF EXISTENCE: VAGAR, por Paula Mota Garcia, coordenadora
da Equipa de Missão Évora_27 Capital Europeia da Cultura, dia 27 de maio às 16h30 no Teatro Garcia de Resende.
Como pode uma capital europeia da cultura propor uma resposta para o futuro da humanidade? Como pode a
cultura, enquanto modo de ser e de estar das gentes de um território do sul da Europa, ser lugar de partida e de
chegada para repensar a relação do humano com tudo o que o rodeia? Como pode essa missão reposicionar todo
um legado cultural no mundo? Questionar, provocar, partilhar soluções é essa a essência de Évora_27 inspirada
pelo VAGAR alentejano, reforçando-o como princípio para a coexistência até 2027 e mais além. É este o mote
para uma conversa que impera naquela que será a Capital Europeia da Cultura, em 2027.
E para encerrar o ciclo de conferências da 3a edição do Festival Imaterial, uma conversa única e que será
certamente surpreendente. 27 de maio às 18h00 no Teatro Garcia de Resende, CONVERSA COM O REALIZADOR
TONY GATLIF, ficando a apresentação a cargo de Michel Winter, manager e produtor musical. Nascido Michel
Dahamani em 1948, na Argélia, filho de pais Romani de origem espanhola, viria a assumir como nome artístico
Tony Gaftlif. Depois de uma juventude rebelde passada em França, havia de encontrar no cinema o meio para
contar as suas histórias, muitas vezes atravessadas por narrativas ligadas aos povos ciganos e à sua cultura, em
especial a música. Se estas temáticas surgiram logo em Corre Gitano e Les Princes, duas das suas primeiras obras,
andaram sempre por perto e tornaram-se o centro da “trilogia cigana” que o afirmou em definitivo no circuito
internacional. Iniciada com Latcho Drom, documentário sobre a música Roma que venceu o prémio Un Certain
Regard no Festival de Cannes de 1992. O segundo filme da trilogia (completada por Mondo) chamar-se-ia Gadjo
Dilo, a sua obra mais popular até hoje, história de um jovem francês que se apaixona pela voz de uma cantora
cigana e que parte para a Roménia à sua procura (replicando o movimento do realizador em busca das suas
origens). Cannes voltaria a coroá-lo com o Prémio de Melhor Realizador, graças ao filme autobiográfico Exils
(2004). Assumindo que as palavras seriam insuficientes para desarmadilhar preconceitos, Tony Gatlif fez da

música e do cinema a defesa da cultura e do povo cigano, enquanto celebração que espelha toda a sua
exuberância, a sua visceralidade e a sua complexidade.
A juntar ao programa musical e às conversas e conferências será anunciado, no dia 9 de maio no encontro de
apresentação do Festival, um programa de ofertas culturais diversificadas passando pelo Ciclo de Cinema e por
Passeios pelo Património.
O Festival Imaterial tem entrada livre e na passada edição contou com mais de 3 mil espectadores. Este ano é
objetivo crescer em visitantes e participantes nas diversas secções do festival, reafirmando o Imaterial como um
ponto de encontro.
Mais informação em: http://festivalimaterial.pt/