Face Oculta: Pacheco Pereira acusa Governo de “ameaças, chantagens e atos” que modificaram panorama dos media
O deputado do PSD Pacheco Pereira acusou hoje o Governo de ter um comportamento “que envolve ameaças, chantagens e atos” que modificaram o panorama da comunicação social e diminuíram a liberdade na informação em Portugal.
“Há um padrão de comportamento deste Governo em relação à comunicação social que envolve ameaças, chantagens e atos que têm vindo de facto a modificar o panorama da comunicação social”, declarou Pacheco Pereira aos jornalistas, no Parlamento.
Pacheco Pereira falava a propósito da edição de hoje do semanário Sol, que transcreve extratos do despacho do juiz de Aveiro responsável pelo caso Face Oculta em que este considera haver “indícios muito fortes da existência de um plano”, envolvendo o primeiro-ministro, José Sócrates, para controlar a estação de televisão TVI e afastar Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz. Do despacho constam transcrições de escutas telefónicas envolvendo Armando Vara, então administrador do BCP, Paulo Penedos, assessor da PT, e Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT.
Para Pacheco Pereira, estas transcrições confirmam “um padrão de comportamento” para o qual tem vindo a alertar.
“Merece-me uma grande preocupação, até porque revela uma coisa sobre a qual eu tenho vindo a falar há muito tempo: a existência de um padrão de comportamento por parte do primeiro-ministro e de um grupo de pessoas à volta do gabinete do primeiro-ministro e de ligações pessoais do primeiro-ministro em relação à comunicação social”, sustentou.
“De facto, o padrão é coerente. O primeiro-ministro convive muito mal com a liberdade de imprensa, convive muito mal com as pessoas que o criticam sobre questões de fundo”, acrescentou.
Para Pacheco Pereira, “o que é grave é que há atos, não é apenas um problema de opiniões. Há atos concretos que, em condições normais, suscitam uma grande preocupação sobre a liberdade de opinião em Portugal”.
“Não estou a dizer que o primeiro-ministro dá a instrução diretamente, embora no caso das revelações do Sol se mostre que há de facto uma atuação concertada no sentido de provocar alterações editoriais nos órgãos de informação”, considerou.
“Estamos perante um padrão de intolerância. Se fosse só subjetivo, poderíamos dizer: bom, é a opinião dele. Mas não é só subjetivo, o que ele diz alguém acaba por fazer. E a verdade é que isso se traduz em menor liberdade na informação em Portugal”, concluiu.
O processo Face Oculta investiga alegados casos de corrupção e outros crimes económicos relacionados com empresas do sector empresarial do Estado e empresas privadas.
No âmbito deste processo, foram constituídos 18 arguidos, incluindo Armando Vara, ex-ministro socialista e vice-presidente do BCP, que suspendeu as funções, José Penedos, presidente da REN – Redes Elétricas Nacionais, suspenso de funções pelo tribunal, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI-Sociedade Comercial e Industrial de Metalomecânica SA. Esta é a empresa que está no centro da investigação e o seu proprietário, Manuel Godinho, é o único dos 18 arguidos do processo que está em prisão preventiva.
IEL.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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