Ferreira do Alentejo/Arqueologia: Povoado de Porto Torrão é o maior do calcolítico achado em Portugal
Ferreira do Alentejo, Beja, 10 fev (Lusa) – O povoado de Porto Torrão, que está a ser escavado perto de Ferreira do Alentejo, é o maior do período calcolítico achado em Portugal e vai “revolucionar” e “reescrever” a pré-história do Baixo Alentejo, asseguram arqueólogos.
O sítio arqueológico, com cinco mil anos e uma área de cerca de 100 hectares “superior” à vila de Ferreira do Alentejo (Beja), “é o maior do calcolítico” em Portugal, disse à Agência Lusa a arqueóloga Ana Rodrigues.
As escavações no povoado, conhecido desde os anos 80 do século XX, começaram em 2008 através de uma intervenção de emergência para salvaguarda dos vestígios através de registo e graças a achados durante obras do Alqueva.
Já foram descobertos sete setores e quatro áreas de necrópoles, disse o arqueólogo Samuel Melro, do Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR).
Trata-se sobretudo de fossos (estruturas subterrâneas) que são “verdadeiras obras públicas monumentais de grande dimensão”, frisou o consultor científico da intervenção, António Valera.
A intervenção, que envolveu mais de 60 arqueólogos e técnicos de três empresas de arqueologia, “é a maior realizada nos últimos anos em Portugal” para o calcolítico, disse Ana Rodrigues.
Trabalhar no sítio, que vai “revolucionar” o conhecimento sobre o calcolítico no Baixo Alentejo, “é o sonho de qualquer arqueólogo que trabalhe em pré-história recente”, frisou.
O Porto Torrão e outros sítios arqueológicos do calcolítico achados no distrito de Beja durante obras do Alqueva “têm alterado profundamente” o conhecimento sobre aquele período na região, sobretudo questões da gestão da morte, e “vão permitir reescrever” a pré-história do Baixo Alentejo, disse António Valera.
Os arqueólogos estão a verificar algo “totalmente inovador”, ou seja, “uma tradição longuíssima no tempo de enterramentos em estruturas subterrâneas” que começou no neolítico, durou vários milhares de anos e chegou até ao fim da Idade do Bronze, explicou.
“Suspeitávamos que poderiam existir áreas de necrópoles” nas comunidades do calcolítico “mas não eram conhecidas” e estão a ser descobertas com obras do Alqueva, frisou.
“Há várias equipas a trabalhar” e o conhecimento “ainda não é generalizado” mas estima-se que o povoado terá começado há cerca de 5000 anos e vivido até ao final do terceiro milénio a.C., disse.
As escavações desvendaram alguns dos fossos e das estruturas funerárias construídos naquele período mas só quando os dados forem reunidos será possível ter uma “ideia mais concreta sobre a forma como se estrutura” o povoado, disse.
“Estamos ainda numa fase inicial” e o povoado, através de eventuais novas intervenções decorrentes de futuras construções na zona, “vai continuar a dar que falar nos próximos anos”, previu.
“Senão fossem os trabalhos” da empresa do Alqueva na zona, que permitiram achar vestígios, “alguns até agora desconhecidos” como as necrópoles, “seria muito difícil alcançar o conhecimento efetivo” do povoado, disse à Lusa o subdiretor do IGESPAR, João Ribeiro.
LL.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Tudoben