Festival Terras sem Sombra em Alvito

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Concerto Campestre Interpreta Grandes Mestres Do Barroco

 “Sileti Venti” (Silêncio, ó Ventos) é o título do concerto do agrupamento Concerto Campestre, dirigido por Pedro Castro, que terá lugar na igreja matriz de Alvito, a 28 de Fevereiro, pelas 21 H 30. Vivaldi, Telemann, Carlos de Seixas e Händel, mestres supremos do Barroco Europeu, dão corpo a um programa de invulgar qualidade que faz justiça às condições acústicas do monumento. Uma experiência estética e espiritual verdadeiramente inexcedível.

 

Desde tempos imemoriais que o homem associou a música aos estados de alma. Platão e Aristóteles falavam das qualidades e dos efeitos morais exercidos pela música sobre os seres humanos. Durante o período renascentista, os teóricos musicais centraram o papel da música como extensão de um texto. Já no Barroco, o pensamento teórico foi marcado por Descartes e pelo seu célebre tratado, escrito em 1649, As Paixões da Alma.

Enquanto linguagem artística, a música barroca caracterizou-se por conter um núcleo central, a ideia de pathos, afecto extremo que determina o estilo de uma obra. Esta preocupação de humanizar a música, herdada do Renascimento, deu origem à “teoria dos afectos”, consagrando a música como veículo ideal para explicar as paixões. O concerto de Alvito reúne um conjunto de obras exemplares disto mesmo, funcionando como síntese dos principais idiomas da música barroca, concretamente, da “música concertante” e da sua estrutura-base, inspirada no ritornello.

 

 

¡ Vivaldi, Seixas, Telemann, Händel, intérpretes supremos da sensibilidade barroca

Antonio Vivaldi notabilizou-se graças à sua música instrumental. Nascido em Veneza, em 1678, revelou desde cedo vocação para a música, mas como sofria de asma, optou pela carreira eclesiástica em detrimento da musical. Nesta época era comum os violinistas também tocarem oboé, instrumento inacessível ao compositor. Em 1703, ano em que foi ordenado sacerdote, entrou ao serviço do Ospedale della Pietà. Dispensado das obrigações eclesiásticas em 1704, viria a ser nomeado director musical em 1713. No final da vida, mudou-se para Viena, procurando a protecção do imperador Carlos IV. Contudo, a morte do soberano conduziu-o a uma situação financeira preocupante. Faleceu em 1741.

Nascido em Coimbra em 1704, filho de Francisco Vaz, organista da Sé Nova, Carlos de Seixas aprendeu música com o pai, acabando por suceder-lhe no cargo em 1718. Entre 1720 e 1722 passou a Lisboa, ensinando cravo em diversas casas nobres. Pela mesma altura obteve a nomeação para o lugar de organista da igreja patriarcal, cargo que ocupou até ao fim da vida. Faleceu em 1742. Ao contrário dos bolseiros régios, enviados para Roma, Seixas nunca saiu de Portugal. Todavia, é evidente que se familiarizou com as correntes musicais mais em voga na época. Como autor de obras para tecla, ocupa um lugar cimeiro entre os nossos compositores.

Tido como o principal criador alemão da primeira metade do século XVIII, Georg Philipp Telemann nasceu em 1681 em Magdeburg. O seu talento musical era reprovado pela família, com ligações à Igreja Luterana, pelo que partiu em 1701 para Leipzig, com o objectivo de estudar Leis. Nesta cidade viu o seu talento incentivado. Em 1712 seguiu para Frankfurt para ocupar o cargo de director musical. No ano de 1721 obteve nomeação idêntica em Hamburgo, posição de que abdicou em 1762, por começar a ficar cego. Faleceu com 85 anos, em 1767. Adepto de um estilo musical mais rígido do que o italiano, Telemann desenvolveu uma escrita baseada na riqueza dos conteúdos temáticos, nos contrastes dinâmicos e na conjugação de instrumentos de natureza tímbrica diferente, fugindo aos cânones da época.

Georg Friedrich Händel nasceu em 1685, em Halle. Os seus dotes musicais sobressaíram desde os primeiros anos, para desespero do pai, que o destinara à advocacia. Porém, em 1692, iniciou os estudos com Zachow, depois do soberano ter repreendido publicamente o cirurgião por negar ao filho o contacto com a música. Em 1702 inscreveu-se na Universidade para estudar Leis. Nesse mesmo ano foi nomeado organista temporário da catedral. A esta “distracção” musical juntar-se-ia a amizade com outro estudante, também relutante na carreira universitária, Telemann. Entre 1703 e 1710 viajou por Itália, em contacto directo com os expoentes máximos da música, até aceitar o cargo de mestre de capela de Hanôver. Em 1712 instalou-se em Londres, onde obteve grandes sucessos no domínio da ópera “italiana. Cegando em 1753, faleceu seis anos depois.

 

¡ O ensemble Concerto Campestre

Com o nome inspirado num famoso quadro de Giorgone, o Concerto Campestre é um grupo de música de câmara que se dedica à interpretação da música europeia do Renascimento ao Barroco. É constituído por jovens profissionais especialistas nos instrumentos da época, como o cravo, o oboé barroco, a viola da gambae o violoncelo barroco. Os seus elementos são formados nas principais escolas europeias e trabalham em vários grupos da especialidade, designadamente o Ricercar Consort, Al Ayre Español, Les Talens Liryques e a Orquestra Barroca Divino Sospiro.

O grupo está sediado em Lisboa e tem a direcção artística de Pedro Castro. A sua constituição é versátil, tendo realizado já projectos desde um trio de câmara até um conjunto de dez músicos e cantores na execução de cantatas e concertos de Bach, Telemann e Seixas. Apresentou-se na Festa da Música no Centro Cultural de Belém, nos Encontros de Música Antiga de Loulé, no átrio do Museu Gulbenkian, na “Festa no Chiado”, nas “Festas de Lisboa” e nos Encontros de Música Antiga de Tomar.

 

¡ A matriz de Alvito, obra-prima da arquitectura manuelina

A origem da matriz de Alvito está associada a um acordo sobre a cobrança dos dízimos que foi celebrado em 1262 entre D. Martinho I, bispo de Évora, e o donatário da vila, Estêvão Anes, chanceler-mor e colaço (irmão de leite) de D. Afonso III – e também genro do monarca, visto ter casado com uma sua filha ilegítima, D. Maria Afonso. Mais tarde, em cédula testamentária de 1279, o fundador legou o padroado da igreja ao convento da Trindade, de Santarém, o que motivaria novo ajuste com a diocese de Évora, subscrito pelo bispo D. Durando. No ano seguinte estava em funções, como prior de Alvito, Fr. João Navarro. A invocação primitiva da paróquia foi a de Santa Maria, festejada no dia 15 de Agosto.

De meados do século XV em diante a vila conheceu um surto de progresso que veio a culminar, em 1481, com a autorização dada por D. João II ao barão de Alvito, João Fernandes da Silveira, chanceler-mor e regedor das justiças, e à sua segunda mulher, D. Maria de Sousa Lobo, para edificarem o castelo. Terá sido pelo mesmo período que se iniciou a reconstrução da matriz, certamente com o contributo dos barões. Após a fase de arranque, as obras pararam alguns anos, devido a um litígio entre o bispo de Évora e a Ordem da Trindade acerca da jurisdição paroquial. Foi já em etapa adiantada do século XVI, durante o priorado de Fr. Jorge de Pombal, que se concluíram os trabalhos, sob a direcção de João Mateus.

O risco do edifício, atribuído a João de Arruda, corresponde a uma requintada modalidade da arquitectura manuelina que ganhou protagonismo nesta zona do Alentejo central e tem como principal paralelo a matriz de Viana. Esta tipologia individualiza-se pela imponência das três naves de distintas alturas, cada uma com quatro tramos revestidos por abóbadas de nervuras, partindo de arcos quebrados que se apoiam em meias-colunas e pilares octogonais. Tudo isto define uma sequência de ritmos que imprime movimentação ao conjunto, tornando explícito o diálogo do Gótico Final com a estética mudéjar, cultivada entre nós a partir dos meados do século XV e que teve no rei D. Manuel um grande apreciador.

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