Inauguração Exposição Museu de Arte Contemporânea em Elvas

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exposição individual de Rui Calçada Bastos
exposição individual de Rui Calçada Bastos

Inauguração da exposição temporária do artista plástico Rui Calçada Bastos / À luz sincera do dia, com curadoria de João Silvério, no dia 4 de Outubro (Sábado) pelas 18:00h, no Museu de Arte Contemporânea de Elvas.

A primeira exposição individual de Rui Calçada Bastos no Museu de Arte Contemporânea de Elvas apresenta um conjunto de obras que nos aproximam de um olhar auto-referencial sobre a cidade.

Sob o título “À Luz sincera do dia”, o artista explora diversas instâncias da paisagem urbana, por vezes nos seus limites, como é o caso da série de fotografias “Untitled 2012 (Snow Dust)”, registadas no lago Mälaren, que atravessa a cidade de Estocolmo e se encontra com o mar Báltico. A luz e a dispersão de pequenos resíduos de neve convocam uma espécie de imaterialidade visual muito próxima das imagens cósmicas que conhecemos do universo da ciência.

Se há aqui uma tendencial poética das imagens, esta confronta-se com uma escultura, “Ghost” (2014), constituída por uma parede que retém ainda a memória de uma escada. Uma pré-existência que nos relaciona com a actividade humana, onde a presença do movimento do corpo encontra a sua inscrição temporal e fragmentária. A escultura, que se materializa entre o desenho e a instalação no espaço da sala do museu, é simultaneamente um lugar paradoxal, não apenas pelo seu deslocamento simbólico mas também por ter na sua face posterior o ecrã onde as imagens do vídeo “Passagem de nível” (2014) são projectadas.

A relação entre os pequenos acidentes quotidianos que incorporamos na nossa vivência e os fenómenos naturais, aliada a um secreto movimento da cidade, concorre para nos fazer reencontrar com um imaginário romântico onde um rumor visual se cruza com uma construção sonora que envolve o espectador na narrativa entrecortada desta obra. Aparentemente, Rui Calçada Bastos activa um movimento de deslocação do olhar e da nossa percepção sobre momentos concretos, em que a transitoriedade prevalece. Contudo, a autoreferencialidade pode tornar-se a presença mais ambígua: uma imagem austera de um homem visto de costas revela um momento íntimo, despudorado, mostrando o seu cabelo acabado de cortar disperso sobre o corpo coberto por uma camisa branca (tal como a parede na obra “Ghost”), onde esses restos de cabelo, essa roupagem do corpo, denunciam uma atitude tranquila, sincera e despojada de códigos convencionais da revelação do corpo. E da presença imaginada de uma morfologia que já é apenas registo. Como um espectro de si mesmo.

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