Mário Crespo considera Parlamento local ideal para refletir sobre liberdade de expressão
O jornalista Mário Crespo defendeu hoje que o país não pode tolerar que o clima de censura nos media seja “uma coisa normal” e afirmou que o Parlamento é o local ideal para uma reflexão sobre o tema.
“Não pode sequer haver uma tolerância para que este clima se deixe estabelecer como sendo uma coisa normal”, disse à Lusa Mário Crespo, que vai ser o primeiro de uma lista de 25 audições subordinadas à temática do “exercício da liberdade de expressão em Portugal”.
“O que aconteceu no [jornal] Sol não é nada normal. O que aconteceu à minha crónica não é nada normal. O que aconteceu na TVI não é nada normal. O que aconteceu no Público não é normal. É preciso interpelar isto de frente, sem medos, porque não há que ter medos”, sublinhou.
Mário Crespo e o ex-diretor do Público, José Manuel Fernandes, são ouvidos quarta feira pela comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura na sequência das notícias sobre um alegado plano do Governo para controlar a comunicação social.
Para o jornalista da SIC o caso “é grave e tem uma gravidade muito específica”.
“Estamos a ser confrontados com casos objetivos, muito claros, muito inequívocos, que exigem uma reflexão pelas autoridades. E eu acho que o Parlamento é o fórum adequado para essa reflexão”, afirmou.
Mário Crespo espera que “o país reflita um bocadinho mais sobre o que está a acontecer neste momento” e que tudo isto “não fique meramente num inquérito sem consequências”.
“Eu confio nas instituições e espero que elas se pronunciem a tempo. A tempo de evitar que se crie no país uma habituação a estas práticas censórias. Nós vivemos duas no curto espaço de uma semana. É demais”, disse.
O “caso Mário Crespo” surgiu a propósito de um artigo que o jornalista escreveu com acusações ao Governo e que o Jornal de Notícias não publicou.
O artigo do jornalista, que não saiu na sua habitual coluna à segunda feira no JN mas foi publicado no site do Instituto Sá Carneiro, acusa membros do Governo de terem falado depreciativamente sobre ele classificando-o como um problema, durante um almoço realizado em Lisboa.
Nas últimas duas semanas, o semanário Sol transcreveu extratos do despacho do juiz de Aveiro responsável pelo caso Face Oculta em que o magistrado considera haver “indícios muito fortes da existência de um plano”, envolvendo o primeiro ministro, José Sócrates, para controlar a estação de televisão TVI e afastar Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz.
Do despacho constam transcrições de escutas telefónicas envolvendo Armando Vara, então administrador do BCP, Paulo Penedos, assessor da PT, e Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT.
A comissão irá também debruçar-se sobre a suspensão do “Jornal Nacional de Sexta” de Manuela Moura Guedes em setembro passado, um dia antes de ser divulgado mais um episódio do caso Freeport, que levou à demissão da direção de Informação, e sobre os investimentos publicitários do Estado nos jornais nacionais.
JRS.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Tudoben