Mármores do Alentejo: Sector em crise, depois de já afectado pela guerra do Iraque
Com exportações para os quatro cantos do mundo, o sector dos mármores alentejanos atravessa dias de “crise”, depois de já ter sido afectado pela guerra do Iraque, segundo a associação dos industriais.
“Além da crise financeira e económica internacional, o sector foi prejudicado pelo conflito do Iraque, por estar “dependente daquela região”, reconhece o vice-presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores (ASSIMAGRA), Miguel Goulão.
A dependência do sector sobre aquela região do Médio Oriente era de tal ordem que, segundo o responsável, se tivessem sido tomadas as medidas preconizadas, “talvez a crise não se tivesse sentido de uma forma tão acentuada”.
Em termos globais, Miguel Goulão reconhece que o sector dos mármores “vive a crise financeira e económica que o país, a Europa e o mundo vivem”.
Apesar desta situação, explicou o dirigente da ASSIMAGRA, o sector dos mármores, no Alentejo, aumentou as exportações em 2007 relativamente a 2006, “contrariando a tendência verificada nos anos anteriores”, com o mercado espanhol a ter “uma responsabilidade muito grande nessa subida”.
No entanto, este ano, as exportações do sector “devem novamente decrescer”, adiantou o responsável, prevendo uma eventual quebra de vendas, sobretudo, para o mercado espanhol.
Como soluções para a “crise” do sector, Miguel Goulão defende a aposta em novos mercados, uma maior organização e capacidade de união dos empresários e a criação da marca do mármore português e da denominação de origem.
“O mármore português, por si só, é um produto que se vende e, se tivermos um selo que garanta a sua origem, é uma vantagem competitiva”, considerou.
Para o vice-presidente da ASSIMAGRA, “o mármore português é único, porque este recurso natural existe aqui e não existe em mais parte nenhuma do mundo, logo, é uma vantagem competitiva que tem de ser explorada”.
“Os empresários deveriam unir-se, porque há determinados mercados nos quais se deveria apostar mais, mas não temos a dimensão empresarial para lá estar”, alega.
“É preciso que as empresas sintam a necessidade e estes momentos de crise podem eventualmente trazer estas virtualidades, ou seja, os empresários sentirem a necessidade de se juntar de forma a dar resposta a esses mercados, quer sejam mais exigentes ou de maior dimensão”, salientou.
O sector dos mármores é a principal actividade económica dos concelhos alentejanos de Vila Viçosa, Borba e Estremoz, com exportações para os quatro cantos do mundo.
De acordo com o vice-presidente executivo da ASSIMAGRA, os mármores portugueses são exportados para todo o mundo, mas a Arábia Saudita é o principal comprador dos mármores portugueses em obra, surgindo a Espanha em segundo lugar, enquanto a China, Arábia Saudita e Espanha são os principais destinos dos mármores em bloco.
Miguel Goulão defende ainda que, para aumentar as exportações, o sector deve apostar sobretudo nos mercados da Europa de Leste, que constituem “as apostas correctas”.
Por outro lado, o dirigente do Sindicato dos Mármores, Sérgio Gazimba, recorda que nos últimos anos têm fechado algumas empresas do sector e “muitas pedreiras” nos concelhos de Estremoz, Borba e Vila Viçosa.
Este ano, enumerou o sindicalista, fecharam as portas, por insolvência, as empresas Mármores Batanete, em Estremoz, deixando no desemprego cerca de 40 trabalhadores, e a fábrica transformadora de mármores de Francisco Lopes Baptista, de Vila Viçosa, do Grupo Marcerpor, que deixou também no desemprego 25 pessoas.
Em declarações à agência Lusa, Sérgio Gazimba, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção, Madeiras, Mármores e Cortiças do Sul, adiantou ainda que outra empresa do Grupo Marcerpor fechou há alguns meses em Pêro Pinheiro.
“Na década de 1990 havia cerca de três mil operários a trabalhar directamente no sector dos mármores nos concelhos de Estremoz, Borba e Vila Viçosa. Hoje trabalham cerca de metade”, observou.
Segundo o dirigente sindical, “as pequenas empresas do sector dos mármores têm diminuído o número de trabalhadores, uns têm saído por mútuo acordo, outros terminam os contratos, mas não são renovados”.
O dirigente sindical alertou ainda que “a contratação colectiva do sector está bloqueada desde há cerca de cinco anos”.
TCA.
Lusa/Tudoben