Monsanto: Entre a admiração dos defensores dos transgénicos e a desconfiança dos ambientalistas
Entre a admiração dos capitalistas e dos defensores da biotecnologia vegetal e a desconfiança dos ambientalistas, a multinacional norte-americana Monsanto não deixa ninguém indiferente.
Eleita pela Forbes como “empresa do ano” graças aos avanços na área da biotecnologia e à sua força económica (aumentou a facturação em 3 por cento no ano passado, para oito mil milhões de euros), os comentários dos leitores mostram que a escolha foi polémica.
No entanto, a Monsanto prefere ignorar os seus detractores e valorizar o seu empenho na biotecnologia que encara como uma das soluções possíveis para acabar com a fome no mundo.
“Estamos a desenvolver culturas de milho, soja e algodão que sejam mais produtivas. É o grande desafio da agricultura: produzir mais com menos recursos”, afirmou o director de Biotecnologia e Relações Corporativas da Monsanto para Espanha, Portugal e Egipto.
Em entrevista à Agência Lusa, Carlos Vicente Alberto lembrou que as estimativas da FAO apontam para um forte crescimento populacional que pode atingir os 9.100 milhões de pessoas em 2050.
“Nessa altura teremos de produzir muitos alimentos e a área de cultivo tende a ser cada vez mais limitada devido à erosão e desflorestação. Só conseguiremos se formos mais eficientes e produtivos. A biotecnologia é mais uma tecnologia, não é a solução para a produção de alimentos, mas é parte dela e não podemos deixar de a usar”.
A Monsanto destaca ainda outras vantagens dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), nomeadamente a incorporação de características escolhidas “à medida” como a maior tolerância à seca ou à salinidade ou a resistência a pragas de insectos.
Carlos Vicente Alberto sublinha que os últimos dados sobre superfície cultivada com OGM, a nível mundial, comprovam este sucesso.
Em 2008, o cultivo deste tipo de sementes atingiu os 125 milhões de hectares (mais 9,3 por cento do que o ano anterior) e era usado por 13,3 milhões de agricultores em todo o mundo, 90 por cebto dos quais de países em vias de desenvolvimento.
Índia e China, dois grandes países emergentes que concentram 40 por cento da população mundial e “onde a biotecnologia tem muita aceitação” são mercados apetecíveis, mas também potenciais concorrentes.
“A China investe grandes quantidades de recursos na investigação de características biotecnológicos que melhorem os seus cultivos”, adianta o responsável da multinacional.
A Monsanto rejeita acusações de monopólio e garante que os agricultores são livres de escolher.
“Os produtos da nossa empresa são comercializados por nós, mas também por muitas outras empresas. Por exemplo, o milho cultivado em Portugal é comercializado por diferentes marcas. O que acontece é que esta (MON810) é a única tecnologia aprovada pela União Europeia e isso impede que as outras companhias não possam competir no mercado”, frisou o director ibérico de biotecnologia.
“O agricultor, como qualquer outro consumidor, tem a capacidade de eleger um ou outro produto. Se repete a compra, é porque retira daí benefícios e não porque é obrigado. O valor da tecnologia é o que faz com que o agricultor a adquira”, acrescentou.
Questionado sobre o impacto da suspensão do cultivo do milho MON810 em seis países europeus, Carlos Vicente Alberto referiu que a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, “a única com competências nestas matérias”, já concluiu que “não há nenhuma evidência científica que justifique a posição desses países e, por isso, a proibição já devia ter sido levantada”.
Esta variedade de milho é cultivada em Portugal desde 2005. No ano passado, a área cultivada atingiu os 5.093 hectares.
A Monsanto conseguiu também obter autorização do Governo português para ensaios com milho geneticamente modificado em Évora e em Salvaterra de Magos, mas o município ribatejano não aceitou a decisão e avançou com uma providência cautelar.
O processo judicial está ainda a decorrer e a empresa mantém para já os testes.
“O nosso objectivo é avaliar localmente a tolerância do milho nas condições agroclimáticas de Portugal para pôr a disposição dos agricultores portugueses esta tecnologia e as sementes mais bem adaptadas”, disse o mesmo responsável, escusando-se a falar sobre o processo.
Lusa/Tudoben