Santiago do Cacém: Milhares de curiosos assistiram à tradicional abertura da Lagoa de Santo André ao mar
Mais de três mil curiosos aproveitaram a tarde solarenga de domingo para assistir ao trabalho das máquinas que abriram um canal pelo cordão dunar, cumprindo a tradição centenária da abertura artifical da Lagoa de Santo André ao mar.
A tradição repete-se anualmente, por altura do equinócio da primavera, desde o século XVII, na altura com a força dos homens.
Hoje o trabalho esteve a cargo de duas ‘lagartas’ (ou tratores de rastos) e de uma escavadora giratória, numa iniciativa promovida pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
A tarde de domingo foi aproveitada por milhares de pessoas – turistas, famílias e muitos habitantes da região -, que não perderam a oportunidade de testemunhar a repetição do ritual bem de perto, chegando a praia da Costa de Santo André a ter mais movimento do que durante a época balnear.
O corredor, este ano com cerca de dez metros de largura e 50 de comprimento, abriu a lagoa às águas do Oceano Atlântico poucos minutos depois das 16:00, dando início à renovação das águas.
Para além da renovação das águas, o processo é repetido anualmente para permitir a saída de matéria orgânica e a entrada de sedimentos arenosos e de organismos (peixes e invertebrados).
“É uma ação de gestão não só do ecossistema – as lagoas costeiras são habitats prioritários e como tal temos obrigação de os proteger e renovar -, mas também para que a pesca continue a existir na lagoa”, explicou à Lusa a responsável da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, Ana Vidal.
Com os níveis de água mais elevados desde 2001, a lagoa onde desaguam cinco ribeiras atingiu este ano uma área de 350 hectares, com uma média de dois metros de profundidade.
“A massa de água vai permitir que o canal se mantenha aberto durante bastante tempo”, disse, prevendo uma abertura de cerca de 60 dias, o que considera “muito bom”, porque quanto mais tempo se mantiver aberto, mais eficaz é a renovação das águas.
“Em 2008 esteve cinco dias aberto e no ano passado não chegou a um mês”, recordou, explicando que, apesar de a abertura ao mar ser feita artificialmente, o cordão dunar acaba por se voltar a formar de forma natural e encerra a lagoa novamente.
O dia de abertura é escolhido tendo em conta as condições ideias, como a maior amplitude das marés (a maior e a mais baixa no mesmo dia), a agitação marítima e o vento calmo.
A Lagoa de Santo André recebe “uma abundante avifauna aquática”, sendo que, para algumas espécies, funciona como refúgio pós-reprodutor durante o verão, apresentando também no outono e no inverno, “grandes concentrações de aves, em grande parte provenientes do norte e centro da Europa”, revelou o ICNB.
Considerado o maior sistema lagunar da costa alentejana, a Lagoa de Santo André está classificada como Sítio RAMSAR – Zona Húmida de Importância Internacional, sendo a sua existência considerada pelo ICNB decisiva para a manutenção dos valores naturais e para atividades humanas como a pesca.
AYN.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico. ***
Lusa/Tudoben