Saúde: Crendices e desconhecimento motivam intoxicações mortais por ingestão de cogumelos – especialista
A investigadora em botânica e micologia, Celeste Santos e Silva, acredita que as intoxicações por cogumelos venenosos são motivadas por crendices e desconhecimento das espécies que são colhidas.
À Agência Lusa, Celeste Santos e Silva afirmou que o conselho que dá às pessoas que colhem cogumelos é que “deixem de acreditar nas crendices da colher de prata, do dente de alho ou da cebola, que escurecem se o cogumelo for venenoso”.
“As pessoas que o fazem tiveram sorte estes anos todos”, afiançou a docente do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, classificando esta situação como “dramática”.
A responsável exemplificou com outro caso: “Há pessoas que acreditam que se há lesmas ou larvas que comem os cogumelos eles também são bons para nós, o que não é verdade”.
Esta semana morreram duas pessoas, um homem de Leiria e uma mulher de Pombal, em unidades hospitalares de Coimbra devido à ingestão de cogumelos venenosos.
Celeste Santos e Silva salientou que, “à primeira vista, é impossível distinguir os cogumelos que são comestíveis dos que são tóxicos”.
“Não é pela cor, nem pela forma, nem pelo cheiro. Têm um conjunto de características que se conjugam para cada espécie de cogumelo”, advertiu a investigadora, acrescentando que “para conhecer é preciso formação que não é apenas dos livros”.
Esta opinião é partilhada pela professora Maria Teresa Gonçalves do Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, que revelou “surpresa” pela “quantidade de casos que estão a acontecer” devido à ingestão de cogumelos tóxicos.
Embora reconheça que “todos os anos há gente um bocadinho incauta”, a investigadora, que se dedica ao estudo da ecologia de fungos, defendeu que “quem não conhece as espécies de cogumelos tem de aprender”, o que passa, além dos livros, “por ir para o campo com pessoas que sabem mesmo”.
“É um saber que leva algum tempo”, acrescentou Maria Teresa Gonçalves.
Formação é também o que preconiza o presidente da Associação Nacional de Engenheiros e Técnicos do Sector Florestal, João Branco
“É fundamental que quem quer apanhar cogumelos tenha formação nesta área, pois há quem julgue estar a colher cogumelos comestíveis por serem parecidos, quando na verdade são venenosos”, observou.
Para João Branco, também presidente do Núcleo de Vila Real da associação ambientalista Quercus, “só deve apanhar cogumelos quem os conhece perfeitamente”.
“Se houver algum tipo de dúvida não deve, de modo algum, apanhar os cogumelos”, avisou, acrescentando que no país “existem centenas de espécies de cogumelos” e “muitas ainda não estão descritas”.
Frisando que os cogumelos à venda nos supermercados não trazem nenhum perigo, João Branco pede também atenção aos locais onde são apanhados os cogumelos.
“Se for colhido num local contaminado, por exemplo por metais pesados, o que acontece é que esse cogumelo também pode ser tóxico”, sustentou o engenheiro florestal, lembrando que em qualquer lado deve haver “cuidado redobrado” na apanha de cogumelos.
SYR.
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