Televisão: Telenovelas estimulam turismo regional e integram guias de excursões
A telenovelas portuguesas provocaram, nos últimos anos, uma ‘guerra’ entre as televisões, mas o seu impacto não é só nas audiências já que as regiões do país que são retratadas registam frequentemente grandes crescimentos turísticos.
Este é o caso da novela actualmente em exibição na TVI, “Deixa que te leve”, que está a ser gravada em Arcos de Valdevez, e que, segundo disse à Lusa a responsável pela delegação de turismo daquela região, prolongou a época alta turística no concelho.
O concelho regista “um aumento muito grande de turistas”, que vão àquela delegação perguntar onde ficam os locais que vêem na telenovela, como a mercearia da Maria Rita, o hotel e as quedas de água”, explicou Natália Veloso.
Um impacto que leva o presidente da câmara de Arco de Valdevez, Francisco Araújo, a considerar que o apoio de 120 mil euros da autarquia à produção da novela foi um “excelente investimento”.
Dono de uma mais típicas tascas do Alto Minho, situada no coração de Arcos de Valdevez, Delfim Amorim confirma que a novela “foi muito boa” para o negócio no concelho.
“Quase todos os dias se vêem aqui excursões, do Algarve, Évora, Leiria, Coimbra. Vêm por causa da novela mas também trazem a minha casa no pensamento e vêm aqui passar um bocadinho”, afirmou.
Entre as regiões do país que sentiram mais o impacto das telenovelas contam-se a Madeira, onde a “Flor do Mar” provocou um crescimento de 15 por cento nas entradas turísticas, e os Açores.
“O mercado nacional excedeu as nossas expectativas”, disse à Lusa a secretária regional do Turismo e Transportes, Conceição Estudante, adiantando que, dado o impacto das filmagens, a secretaria regional tem “um novo projecto, que irá para o terreno em Dezembro, de uma nova mini-série da TVI que terá como cenário a Região e que será exibida no primeiro trimestre de 2010”.
A secretaria regional e câmaras municipais da região investiram 500 mil euros na produção de “Flor do Mar”, tendo todas beneficiado.
Houve “filmagens e uma presença nos diversos concelhos que acabaram por beneficiá-las [as autarquias] também a medida em que sabemos que houve muitos pedidos de turistas para visitar os locais das filmagens”, disse Conceição Estudante.
A responsável realçou ainda que a novela vai ser exibida em outros países através da RTP-Internacional, “o que constitui um potencial para a promoção da Madeira em mercados externos”.
O delegado na Madeira da Associação Portuguesa dos Agentes de Viagens e Turismo, João Welsh, considera igualmente que as novelas “são um veículo promocional bastante forte e um bom investimento porque o universo de espectadores é significativo e desperta em que as vê interesse e curiosidade de conhecer os locais das filmagens”.
Para a presidente da Associação Turismo Açores, Cristina Ávila, a realização da telenovela “Ilha dos Amores” na região constituiu “uma das acções promocionais com mais impacto” para o turismo local, tendo sido “decisiva para um aumento espectacular da procura dos continentais pelos Açores”.
Para esta responsável, “a aposta foi ganha e o retorno começou a sentir-se logo após os primeiros episódios”, tendo o sucesso sido de tal ordem que foi decidido prolongar a telenovela por mais três meses.
O fenómeno nem é novo. Há 14 anos, as gravações da novela “Roseira Brava”, emitida pela RTP, revolucionaram o dia-a-dia da aldeia alentejana de Brinches, no concelho de Serpa (Beja).
Durante as gravações, entre Janeiro e Julho de 1995, “foi um reboliço” na aldeia, porque “ninguém fazia ideia como se filmava uma novela” e “todos queriam assistir às filmagens” e participar como figurantes, contou à Lusa a habitante de Brinches, Romana Murta, de 65 anos.
Das memórias da altura, cuja “maior parte” o tempo “já apagou”, outra habitante, Filomena Oliveira, lembra as gravações das cenas de um casamento na igreja da aldeia e que foi “abençoado” com chuva “de faz de conta”.
Muitas das gravações decorreram no Largo do Adro da Igreja e às portas do Café Central, que na altura estava fechado, devido à morte do antigo proprietário, e só reabriu “pouco depois” de a novela ir para o ar, após ter sido adquirido pelo actual dono, Rui Farinho.
A fachada e a esplanada do café “foram recuperadas de propósito” para servir de cenário a várias cenas exteriores, mas as cenas de interior, que supostamente decorriam da porta do café para dentro, “foram gravadas em estúdio”, contou Rui Farinho.
Durante a exibição da novela, passaram por Brinches “milhares de pessoas” para “conhecer a aldeia e o café”, lembrou, frisando que “para o arranque do negócio foi bom”.
“Até mandei fazer chapéus, isqueiros e t-shirts”, alusivos ao café e à novela, “que as pessoas compravam”, contou, referindo que “a história das gravações da novela já passou à história” mas “ainda hoje, esporadicamente, aparecem pessoas a perguntar se este era o café da ‘Roseira Brava'”.
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